LEITURA MÍSTICA DA GUERRA DO CONTESTADO
LEITURA MÍSTICA DA GUERRA DO CONTESTADO
A leitura primária que faço disso que, para nós humanos, foi uma matança que, além de injusta, assumiu requintes de extrema crueldade, é a seguinte:
Sendo Deus sumamente justo e magnanimamente bondoso, fez suas criaturas extremamente simples e ignorantes. Não as criou ignorantes por orgulho – sentimento que Ele abomina – mas, para que por seu livre arbítrio, isto é, por sua livre e espontânea vontade, essas criaturas – os espíritos ou almas – se esforçassem por conseguir a sabedoria, com vistas ao progresso intelectual e moral, através das intermitentes reencarnações em diversos mundos esparsos pelo espaço infinito, que perfazem Sua grandiosa obra.
Há vários outros exemplos semelhantes de extermínios em outras épocas e diferentes locais, mas, entre 1896 e 1916 há, no Brasil, dois exemplos clássicos de guerras similares em suas origens e qualidade de seus contendores. Ambas foram os governantes brasileiros que moveram contra brasileiros que residiam em lugares ermos; em ambos os casos, os adversários do Governo, era o povo simples da roça, sendo que nenhuma instrução tinha, pois mais de noventa por cento deles eram analfabetos e sem instrução religiosa. Essas guerras tiveram lugar no extremo norte do país, a Guerra de Canudos, liderada por Antônio Cavalheiro e, no sul, a Guerra do Contestado, cujos líderes não assumidos foram os monges andarilhos, João Maria e José Maria.
Acredito piamente que todos esses líderes foram espíritos já depurados, que reencarnaram nesse meio exatamente para provocar as reações que tiveram repercussão nacional e, por isso, a comoção da guerra, cujo desfecho a história nos indica.
As “vitimas” foram, em ambos os casos, indivíduos simples e similares em sua ignorância, honorabilidade e pobreza; de boa fé, ingenuidade, boa índole e laboriosidade, também similares; e, também, foram idênticos na aprimorada educação e respeito para com seus iguais, cujo legado, deixaram como única herança à sua prole, porque mais não tinham para dar.
Acontece, porém, que, não tendo escolas nem educação religiosa e nem meios que lhes fossem proporcionados por quem de direito; por isso mesmo, só aprenderam o básico para se conduzirem na vida terrena. O amanho da terra ensinou-lhes tudo o de que necessitavam para bem conduzirem seus roçados. A simplicidade dos interiores em que viviam ensinou-lhes a humilde vivência, o respeito pelos mais velhos e a bem acabada educação que deram a seus filhos, porque não lhes foi dada a oportunidade de aprimorar sua intelectualidade e, por conseguinte, seu senso moral.
Pouco ou nada sabiam eles de específico, em ambos os casos, da centelha divina que cada homem traz na alma e, o pouco que sabiam, aprenderam-no equivocadamente.
Qual a chance que tinham eles de crescer intelectual e moralmente, nestes ermos baldos de quaisquer meios, que somente os da sobrevivência dos corpos? Há de ser levado em conta que, em sua época, os conhecimentos da ciência ainda não alcançavam os interiores.
Deus, que é onisciente e justo, já previra, desde sempre, essa situação. Colheu-os ainda flores não contaminadas pela ferrugem do mal absoluto, dóceis à sua índole mansa, como dóceis também foram, apesar dos pesares, aos preceitos do Criador.
Por que, então, esse sofrimento todo? Não poderiam os corpos que abrigavam essas almas, ter uma outra espécie de morte coletiva, sem tanto sofrimento, já que eram pessoas de boa índole e senso de justiça?
Porque Deus é sábio e justo, repito, fez com que eles sofressem para preparar essas almas, já com vistas à sua reencarnação futura em melhores situações, num meio mais favorável ao seu aprimoramento.
Os mercenários advindos depois, saídos de todas as categorias de que o crime é feito, é certo que também sofreram. Se endurecidos nessa senda – quem seria capaz de afirmar ou desmentir – que, na sua hora derradeira, não haja esse sofrimento contribuído a que voltassem seus olhos para o Criador e dele obtivessem um pouco de sua compaixão?
Os mandantes das situações em que se verificou a guerra, foram meros instrumentos utilizados por Deus. Poderiam eles ter distribuído naqueles sertões os benefícios de que esses matutos, enquanto cidadãos do mesmo país, necessitavam. Era deles esse direito e dever do governo. No entanto, não o fizeram. Preferiram fazer uso desse livre arbítrio de que Deus os dotou. Serviram de instrumento para que esse povo obtivesse o que eles, os governantes, não foram capazes de lhe dar – melhores perspectivas de progresso intelectual, com vistas à vida futura. Nem por isso – o de não servirem de instrumento para o bem – Deus passará a mão sobre suas cabeças, lhes perdoando a ignomínia praticada. Por sua vez e, com maior rigor, hão de pagar a dívida do mal que, a priori, adulterou o fato de terem maiores possibilidades do desenvolvimento moral.
Se as autoridades responsáveis não sofreram as consequências dos seus atos nesta vida pela Lei dos homens, a Lei de Deus é inexorável e justa, em todos os seus itens.