Amor Roubado



Acordei ao escutar alguma coisa batendo à janela, como o ruído de asas de pássaro, de tão leve me pareceu. Meio sonolenta, ainda, fiquei escutando e, novamente, o mesmo roçar suave no vidro.
Levantei-me cautelosamente e entreabri a persiana para ver o que acontecia. No jardim iluminado fracamente pela luz do poste da rua, entre as roseiras e arbustos que o vento sacudia com força e que vergavam até minha janela, estava
ele, o meu amor,esperando por mim. Com a gola rolê da camiseta preta encobrindo metade do rosto, somente seus olhos sorridentes apareciam.
Colocando o dedo sobre os lábios, pedindo silêncio, como se houvéssemos combinado, abri a janela e ele pulou para dentro do meu quarto. Não foi preciso falar. Senti seus braços fortes me enlaçando e o beijo tão desejado aconteceu...
Não estranhei sua chegada inesperada, pois aespera
vahá tanto tempo. Há pouco nos havíamos separado socialmente de uma festa de aniversário, com um casual “boa noite”. Nada foi premeditado, apenas o desejo de nos revermos o trouxe até minha janela com toda aquela intempérie.
Aconchegada em seus braços, sentindo os beijos que confirmavam uma delicadeza e carinho que eu imaginara haver, agasalhei suas mãos geladas nos meus seios e senti um forte arrepio, não só pelo frio daquelas mãos, mas porque meu corpo todo compreendeu que aquele homem que eu desejava tanto estava ali, comigo, por vontade própria.
- Não agüentei ficar sem ti, hoje. Não notaste que durante toda noite fiquei só te olhando? – perguntou-me entre beijos.
- Como não notaria, se também te olhava sempre? Aliás, não era só eu que te namorava...
- Ciumenta, sabes que precisamos aparentar uma constante indiferença. No momento eu só tenho pensamentos para ti. Não sei quanto vai durar, mas precisamos aproveitar o tempo que roubamos.
Ao ouvir essas palavras, minha libido cresceu e derrubou as últimas barreiras que eu havia erguido. Sim, estávamos roubando momentos de amor. Não amor. Estávamos nos dando momentos de paixão e carinho que outras pessoas não saberiam dosar como nós.
Todo meu corpo estava preparado para o carinho dele e  para dar-lhe a prova da minha paixão. Nos amamos, a princípio, com suaves e comedidas carícias que percorriam, mutuamente, nossos corpos. Depois, num crescendo desenfreado, ficamos mais exigentes e audaciosos, alcançando o paroxismo dos nossos sentidos.
Exausta, quase desfalecida, recostei-me em seu braço sentindo, ainda, seus beijos em meus seios e, pousando leves em minha boca, enquanto que, numa espécie de sonho escutava sua voz ao meu ouvido e adormeci.
O sol estava pleno quando acordei. A tempestade da madrugada havia feito estragos no meu jardim e um galho da árvore perto da janela estava caído e por pouco não quebrou os vidros. Sem ventania e à luz do dia constatei que minha visita noturna fora apenas a solidão...