Saudades
Hoje é mais um daqueles dias nos quais ela acorda e não quer sair de baixo dos cobertores. Ao olhar o céu cinza pela janela e sentir o frio ela ficou nostálgica, começou a relembrar o passado e sentir saudades. O inverno tem essa capacidade única de nos remeter àquilo que nos agonia.
Ela resolveu ir a cozinha preparar um capuccino. Nada melhor que um capuccino num dia frio. Enquanto esperava o leite esquentar ela se fez lembrar que quando decidiu ser racional e colocar-se como prioridade em sua própria vida, ela tinha certeza que estava deixando algo para trás. Ela sabia o que aconteceria, portanto não se daria o direito de arrepender-se.
O amor sincero, que talvez nunca mais venha a ter novamente, faz mais falta do que seria possível mensurar. A saudade que a entristece não é da pessoa que antes era amante e nem dos planos de um futuro compartilhado. Ela misturou o pó do capuccino com o leite quente e vendo a fumaça sair da xícara derramou uma lágrima.
As saudades são do que sentia. Ela acredita ser impossível amar e ser amada daquela mesma forma mais de uma vez numa vida e por isso ficou cética. Passou sua mão na lágrima, pegou sua xícara e foi sentar-se na cadeira de vime da varanda. Ela pensou nas relações que teve depois de tomar aquela decisão. Nunca se deixava envolver mais do que o limite que se deu. E sempre faltava alguma coisa.
Será que alguém vai conseguir mostrar a ela que o amor pode acontecer de novo? E que ela não precisará ter que escolher o outro antes de si mesma? Ela terminou o capuccino e resolveu voltar para a cama, desejando que a resposta seja sim.