GUIMARÃES ROSA, O TURISMO E O SERTÃO

Em Guimarães Rosa transparece todo o misticismo do sertão, o mistério da Gruta do Maquiné, a sua maravilha e a sua religiosidade quase mística, baseada em sua natureza, marcada pelo seus salões, fadas e grinaldas em pedra.

Assim é o sertão de Rosa: ora particular, pequeno e próximo; ora universal e infinito, pois” o sertão é o mundo “ou, melhor ainda, “o sertão é dentro da gente”. Ou será dentro de uma Gruta Maquiné?

E assim, João Guimarães Rosa interfere na linguagem do turismo. Suas obras já são convidativas à visita ao sertão, ao paço, às grutas e montanhas de Minas, às grutas de Cordisburgo e rendondezas. São várias. Há eterna preocupação com a revalorização dos lugares e das palavras.

O turismo dá para João Guimarães Rosa a eternidade do lugar, da cidade e da Gruta do Maquiné. Dá-lhe a oportunidade de eternizar ainda mais suas obras e veredas através do turismo multiplicador.

O turismo por sua vez recebe uma roupagem nova, explorando os limites do significado, trabalhando metáforas e aliterações que podem surgem além do mistério da gruta, além das veredas do lugar. Manifesta, inclusive, além do grande sertão, uma preocupação enorme com aquilo que não está escrito em palavras, mas sim nas entrelinhas. E as entrelinhas nos diz sustentabilidade, nos diz desenvolvimento estratégico. Nos diz, segundo Rosa, que o turismo faz o homem se eternizar, ele não morre nas lembranças de suas viagens de lazer, culturais e intercambiadoras de múltiplas linguagens sociais. Ao contrário, pode ser feliz.

Como admite o próprio autor, ao citar em Grande Sertão, Veredas:

Cordisburgo era pequeníssima terra sertaneja, trás montanhas no meio de Minas Gerais. Só quase lugar mas tão de repente bonito: Lá se desencerra a Gruta do Maquine, milmaravilha, a das Fadas e o próprio campo com vasqueiros coxos de sal ao gado bravo entre gentis morros ou sobre o demais de estrelas falava-se antes os pastos de Vista-Alegre.

A literatura de João Guimarães Rosa é transformada em ponto cultural e turístico de Cordisburgo. O Museu Casa Guimarães Rosa foi inaugurado em 30 de março de 1974, como parte da cultura local e das artes, homenageando seu filho ilustre. Em convênio firmado com o IEPHA e o Ministério de Educação e Cultura – SPHAN, o acervo do Museu Casa Guimarães Rosa conta com aproximadamente 200 peças e 1200 documentos que registram a vida e obra do escritor.

O turismo e a natureza constituem em dicotomia que se ajusta perfeitamente ao estudo significativo da obra de João Guimarães Rosa. A convivência harmoniosa destes valores no estuário do conhecimento humano resulta em um legado constituído de substancioso patrimônio histórico-estético-cultural. Independentemente destas observações levantadas na temática da literatura de Guimarães Rosa, encontra-se o turista. Transcende, ele, a arte da palavra para visualizar o objeto que projetou em espécie e profundidade nostálgica. Vale a pena aplicar a óptica proposta, para que turismo e a literatura se unam em um ângulo, para a demanda da cultura e do prazer por que anseiam os homens. Deve-se ressaltar que, enquanto a literatura entra com a arte da palavra, a aplicação do estudo do turismo plasma-se na objetiva deste conjunto, no conteúdo exploratório para a oferta da arte. Desta forma, o turismo ampara a visão do mundo na tangente do resgate de uma matéria – para muitos, desconhecida – às vezes, até insípida, apesar de explorada por leitores radicais e isolados nos seus pontos de vista críticos que não atentam para outros recursos que a obra de arte pode oferecer. Nesta contextualização, sobressaem turismo e literatura com uma tonalidade esplêndida e original na constituição do prazer que se multiplica, se evidencia e cresce em extensão e oportunidade. Corrobora-se assim, a inter-relação cultural que deve ser fomentada em continuidade. Sertão, gruta, mistério, literatura, um único contexto cultural que deve ser planificado.

Portanto, para a incrementação e sustentabilidade do arcabouço turístico-cultural local há a necessidade de disputas entre os diversos atores locais. Há a necessidade de elaboração de um processo de tomada de decisão de política local para a defensa e a idéia de pluralidade e participação comunitária.

Um planejamento e uma administração estratégica a médio e longo prazo se fazem necessários para a sustentabilidade da comunidade, sem que haja perda de identidade na valorização da cultura. Por outro lado, interpelar a melhora da qualidade de vida cordisburguense, através da geração de renda com novas origens, e, conseqüentemente, fixação do homem em sua origem, como sociedade anfitriã que traz respeitabilidade aos seus turistas.

Os fatores primordiais da sustentabilidade são o planejamento das ações, seleção de prioridades, descentralização do turismo, parcerias, mobilização, capacitação – qualificação das pessoas envolvidas no município –, gestão organizacional interna, gestão participativo-ambiental, visando à socialização dos resultados e as tomadas de decisão, além de estabelecer a responsabilidade e cumplicidade pelo resultado alcançado.

Minas Gerais é potencialmente um estado turístico, pois, representa, e poderá representar muito mais para o PIB do país. E entre os pontos turísticos do estado, se destaca a Gruta do Maquiné que recebe em média 44.378 turistas anualmente, o que significa 129 novos turistas por dia.

Ainda assim, nada se tem feito, no que tange a previsibilidade da demanda de lazer da referida gruta. Devido à natureza intrínseca do processo de todo desenvolvimento da atividade turística e das questões fulcrais, conceituais e mensuráveis do planejamento referenciado ao longo deste trabalho, sugere-se um modelo preditivo, fidedigno e válido para a previsão do lazer e do volume turístico mensal, o que permite um planejamento assentado em base científica e, portanto, mais estável, tendo em vista, sempre, alternativas disponíveis ao consumidor.

De todo modo, deve-se entender por modelo probabilístico, preditivo, como aquele que representa um sistema, prevendo e controlando, sendo mais explanatório do que descritivo.

Se não ganhar importância em situações de impossibilidade pelo tamanho da população, pelo desconhecimento da população e pelo custo de determinação dos efeitos das mudanças que se realizam nos sistemas existentes. Um modelo é uma abstração da realidade, o que é sempre necessário, em função da infinidade de variáveis relevantes envolvidas nas relações turísticas e econômicas reais.

Por um lado, a variável independente foi nomeada tempo, como se pode perceber nas legendas abaixo descritas. Por outro lado, a variável dependente representa o volume turístico, em número de turistas na unidade de tempo e são afetadas pelas rendas, preferências, oportunidades e pela utilidade ou prazer gerado pelo seu uso. Enquanto modelo preceptivo, será usado para exprimir a ocorrência de determinado evento, para variáveis significativamente correlacionadas, o que é útil enquanto investimento auxiliar ao desenvolvimento de estratégias e planificações.

Oportunamente, constituir-se-ão modelos que revelem as origens, as distâncias, as áreas de destinações duração de permanência e informações sócio-econômicas que possam incrementar atividades turísticas localizadas. A proposta do estudo no turismo da Gruta do Maquiné em Cordisburgo consagrada pela literatura de João Guimarães Rosa prioriza e reverencia uma criação perfeita transcendente. Fundamenta a idéia da beleza natural que incentiva a atividade turística e o papel dos atores principais. A gruta e seus salões se elevam à categoria de patrimônio cultural e podem ser assimilados na literatura regional, na impactação ambiental positiva... Assim o “Sertão é o Mundo” e grutas o “Mistério“. Imortalizam-se como valores universais, nos quais a paisagem exibe-se por si mesma na explosão natural que assegura à emoção humana, o mito da criação e do universalismo. O turismo entra então por uma gruta para se descortinar e dar luz a esta riqueza universal... Apresentar ao próprio anfitrião e ao turista uma oferta de cores originais. A poesia é a proposta vicejante do turismo de Minas Gerais. Na melodia do caboclo, do dono da terra, do sol, do horizonte, das estrelas, das pedras cinzentas apresenta-se o broto vicejante da terra... Ganha-se o brilho sui-generes das dobras das serras ou das pequenas saliências que se dividem pelas matas ciliares que vão se tornando azul pela distância... Bom mesmo é ouvir uma “conversa de bois” no seu ritmo de cascata; ou ficar à vista de diversos lugares para extrair a terra salitrosa que contém quantidades de pequenas ossadas e de dentes, as massas enormes de estalagmites que se erguem até à abóbada e que se ligam à parede por desenhos pitorescos reverenciados, não para, mas pela criação perfeita.

E, finalmente, é importante assinalar que os diferentes impactos – econômicos, culturais, ambientais, guturais – não ocorrem de forma isolada. Ao contrário, na maior parte das vezes estão intimamente ligados e relacionados um com outro. Deve-se resgatar é o turismo não é uma atividade inocente. Ao contrário, é um setor com limites de mudança aceitáveis, se bem dimensionado e planejado rigorosamente.

silvania mendonça almeida margarida

mestre em estudos linguisticos

doutoranda em educação

blogs: elosautisticos.blogspot.com

inclusaojuridica.blogspot.com

Silvania Mendonça
Enviado por Silvania Mendonça em 28/03/2010
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