Petrópolis sua “imperialidade” e sua infra-estrutura
Petrópolis sua “imperialidade” e sua infra-estrutura.
Sem dúvida, uma das mais belas cidades do Brasil – e para muitos, do mundo – é a histórica cidade de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, da qual sou natural. Infelizmente o mundo se destaca, em pleno século XXI, Era de alta tecnologia e riqueza, mais por sua miséria do que por sua prosperidade. Vitto Gianotti, no recente Muralhas da Linguagem relata que cerca de 80% dos brasileiros não consegue interpretar um texto de nível médio de complexidade. Baseando-se em pesquisas de instituições internacionais o filósofo canadense Lou Marinoff , no seu livro O Caminho do Meio nos relata que mais da metade da humanidade não sabe ler...Deste modo, antes de falarmos do que Petrópolis possui, precisamos ressaltar, com vergonha e em protesto, o que a grande maioria das cidades não possui.
Recentemente a Rede Globo de televisão veiculou em um de seus telejornais nacionais uma pesquisa que havia constatado a alarmante realidade de que em cada 100 cidades brasileiras apenas duas possuem uma sala de cinema, e menos da metade possui alguma casa cultural, como um centro de cultura. Muito pior do que isso: Quando Jáques Vagner assumiu o governo da Bahia, encomendou uma pesquisa a fim de averiguar quantos baianos, fora da cidade de Salvador, possuíam água encanada. O dado estarrecedor levantado demonstrava que menos de 40% dos baianos do interior tinham acesso a água encanada potável, um bem básico e indispensável à vida. Questão de sobrevivência. Terrivelmente, muitos lugares do Brasil não possuem água encanada, luz elétrica, escola, comércio, posto de saúde...
Em contraste com esta cruel realidade, Petrópolis não somente tem uma ótima infra-estrutura se comparada com estas cidades – onde a vida não é para principiantes! (Tom Jobim dizia que o Brasil não é para iniciantes. Radicalizo: A vida é que não é para iniciantes!) Mas, mesmo no cenário das cidades ricas, ditas desenvolvidas, Petrópolis tem uma configuração infra-estrutural muito boa, dentro do que lhe permite sua topologia serrana. Vejamos.
O Museu Imperial de Petrópolis é visitado por pessoas de todo o Brasil, bem como por turistas de todas as partes do mundo. Seu acervo é o mais valioso do País no que diz respeito ao período imperial. Lá estão as jóias da coroa, o cetro imperial, as armas do imperador, bem como uma vasta e rica mobília que pertenceu a Família Imperial. No campo das belas artes, o museu destaca-se por seu acervo de pinturas, com maravilhosas obras de gênios como Pedro Américo e Vitor Meirelles, bem como por uma rica coleção de pinturas e desenhos estrangeiros, com destaque para os franceses. O quadro “A Batalha de Campo Grande” de Pedro Américo, com proporções colossais, causa profundo impacto aos espíritos investigativos e sensíveis que se deleitam com o fenômeno estético. Como se não bastasse um Museu Imperial com prestígio internacional, a cidade conta com um espaçoso Centro de Cultura, com cinema público que exibe bons filmes gratuitamente, salas de exposições e uma biblioteca. Mas não é o único. Espalhada por toda a cidade há espaços culturais, como a Encantada, casa de Carlos Alberto Santos Dumont, tão genial quanto o dono que a projetou. Muitas são as casas de Barões e artistas, como Stephan Zweig, importantíssimo escritor alemão que viveu e morreu em Petrópolis, a casa do Barão de Mauá, que foi, ao seu tempo, um dos mais ricos e empreendedores homens do mundo, a casa do Barão do Rio Branco, onde o foi assinado o tratado que anexou ao Brasil o belo e longínquo Estado do Acre...
Muitos foram seus ilustres moradores. Gabriela Mistral, poetisa chilena, residia em Petrópolis quando ganhou o prêmio Nobel de Literatura. Como já dissemos, também Santos Dumont e Stephan Zweig, bem como Rui Barbosa, Vinicius de Morais entre outros residiram na cidade. Não nos esqueçamos do célebre Oswaldo Cruz, que foi o primeiro prefeito da cidade. Fato, polêmico ou não, é que a cidade de Petrópolis haveria de gerar para o mundo o seu próprio prêmio Nobel. Como podemos ler no site da Sociedade Brasileira de Nefrologia “Peter Brian Medawar, Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1960, era brasileiro, nascido no Hospital Santa Teresa, em Petrópolis, onde viveu até os 14 anos de idade ao lado de seus pais, que permaneceram na cidade por 40 anos”.
Mas enfim, quanto à infra-estrutura da cidade, ela conta com cinemas, teatros, dentre eles um belo Teatro Municipal, uma Academia de Letras, diversas bibliotecas, como a da Universidade Católica de Petrópolis, e diversas livrarias, o que, infelizmente a coloca entre as cidades mais letradas do Brasil. Digo infelizmente, porque é horrivelmente comum o fato de haver cidades com uma população bem superior aos 300 mil habitantes de Petrópolis, sem possuírem uma livraria sequer.
Seu comércio merece destaque. São comuns os cafés onde se pode tomar um ótimo expresso, tanto no centro da cidade, quanto na charmosa Itaipava. O centro conta com um comércio arrojado, com bons Restaurantes, cafés, adegas, Livrarias e lojas de roupas e artigos sofisticados. Sem dúvida, acha-se lá, produtos e serviços muito além dos básicos e populares. Em pleno centro, pode-se jantar no Restaurante Solar do Império, em uma mansão na Avenida Koeler, que abriga o Palácio Rio Negro, casa de veraneio dos presidentes da República. Neste endereço é comum um imóvel custar milhões de dólares – as menores casas, sobrados, valem em torno de 1 milhão de reais. Na Avenida Ipiranga, pode-se apreciar um bom vinho enquanto se degusta algo, em uma das boas adegas da cidade, a casa Bordeux, funcionando anexa a uma mansão famosa por servir como locação de novelas globais. Mas a gastronomia Petropolitana não se limita, de modo algum ao centro da cidade. São inúmeros os bons restaurantes em Itaipava, Araras e outras regiões. O internacionalmente famoso Locanda Della Momosa, do chef Danio Braga, é o único restaurante da América do Sul, membro do “les Grandes Tables du Monde” uma associação de alta gastronomia com sede em Paris que certifica e admite aqueles que considera ser os melhores restaurantes do mundo. Sua adega foi eleita em 2007 pelo guia 4 rodas, como tendo a melhor carta de vinhos do Brasil e é famoso o seu festival de trufas, um dos mais sofisticados e caros sabores do mundo gastronômico. O Locanda foi avaliado pela Revista Viagem como um dos dez melhores restaurantes italianos do Brasil e considerado o melhor restaurante dos arredores do Rio de Janeiro pela revista Veja Rio de Outubro de 2006.
Entretanto, se o assunto é comércio popular de qualidade, há a Rua Teresa, um dos maiores shoppings a céu aberto do Brasil. Petrópolis não exclui ninguém.
No cenário acadêmico, a cidade recebe pessoas do Brasil inteiro, que vão estudar na Universidade Católica de Petrópolis, na Universidade Estácio de Sá, cândido Mendes, ou na FASE, que em 2009 foi eleita a melhor faculdade privada do Estado, e que em medicina e administração ficou atrás somente das internacionalmente famosas UFRJ e UERJ. O campus universitário da FASE é hoje um dos melhores do Brasil, adotando um padrão de qualidade internacional, destacando-se pela beleza e conforto de suas instalações. Há também um instituto federal de educação - CEFET- em um belo prédio no centro da Cidade. Petrópolis é, lembremo-nos, sede do LNCC – o Laboratório Nacional de Computação Cientifica, contando com os computadores mais avançados da América Latina e recebendo pesquisadores de todo o Brasil e de muitas partes do mundo, como por exemplo, do Imperial College de Londres.
Quanto a economia, podemos dizer seguramente que a cidade participa, ao seu modo, do grande mercado nacional e internacional, por meio de empreendimentos como a Cervejaria Petrópolis que já abastece boa parte do mercado brasileiro com a sua ótima cerveja Itaipava e a GE Celma, do ramo aeronáutico, que acabou de fechar mais um negocio, cujo valor chega a 1 bilhão de dólares. Por falar em cerveja, esta bebida dourada dos deuses nórdicos parece ser uma tendência natural da cidade, que em 1888 deu ao Brasil a sua primeira Cerveja: Boemia.
Petrópolis é, sobretudo, uma cidade tranqüila, educada e agradável, mas não sem um sinal de alerta. Em busca de uma vida melhor, e por viverem em cidades desumanas, muitas pessoas têm migrado para a cidade, originando um preocupante processo de ocupação irregular de áreas de proteção ambiental. Nada poderia ser mais brasileiro, ao menos, quanto ao o que representa hoje, isto de ser brasileiro. Com beleza e contraste, riqueza e pobreza, Petrópolis, incrustada nos vales da Serra Fluminense permanece sendo uma bela e encantadora cidade.