Big Brother Brasil, Sociedade Panóptica
Big Brother Brasil, Sociedade Panóptica
O gosto por exibir-se, por devassar-se e o gosto por alimentar-se da devassa do outro são fenômenos irmãos, mais presentes do que nunca em nossa sociedade. Sozinhos na multidão, temos a necessidade de nos conectar a tudo e todos, o tempo inteiro. Fugimos assim do silêncio, da solidão, do confronto que éestar no encontro tão somente consigo mesmo. Sociedade panóptica, todos vendo tudo e todos, ouvindo tudo e todos.Todos a observar as vísceras dos outros, seus ataques, suas seqüelas, suas virtudes e suas misérias. Big Brother – milhões de ligações – milhões de dólares – audiência e empenho superior à tragédia no Haiti. Há. tragédia logo ali. Saracuruna, Vidigal, Japeri. Big Brother – necessidade desesperada de aparecimento – perecimento da perenidade de ser simples, de ser feliz na simplicidade, no encontro autêntico com o que é belo sem deixar de ser sutil. Fútil. Big Brother, sociedade de múltiplas observações do efêmero – perscrutação inexorável do fugaz. Diáfana de tão rala, caldo aguado, café comprido. Imbróglio entre Fama e Qualidade, entre o Vulgar e o Bonito. Eis que o devir histórico nos impulsionou a isto que se diz contemporâneo – milhões e milhões de imagens inter-cruzadas e transversais, espaços-tempo elásticos digitalizados formando tramas cibernéticas em um universo paralelo exponencial - mercados globais – filmes globais – carência total de vilarejos e fogões a lenha – ações, pregões, bolhas e especulações – carros importados, marcas, símbolos disseminados. Chip de memória, pílulas do amor – clones, vírus, e-mails.
Nova tribo global, filhos de Gaia, virtuais e físicos. Sem tempo para ler, resta-nos ser, “Psicopanópticos”.