Para muito além do bem e do mal.
De acordo com a cosmologia contemporânea, o universo está a se expandir a cada novo instante, no momento em que uma criança nasce, em que seu filho fala mamãe pela primeira vez, no segundo fugaz em que demos o primeiro beijo, ruborizados, com as pernas tremulas, o coração acelerado, o estomago frio, em cada uma das minúsculas “partículas” de tempo, o universo cresce a partir de si mesmo, como vida que se alimenta de si própria e gera mais vida, agora, alimentada.
As observações de Hubble sugerem que são as galáxias mais afastadas da Via Láctea justamente as que se afastam mais rapidamente, aproximadamente, fogem para longe a cada segundo, um pouco abaixo da velocidade da luz! Tente imaginar um universo que se expande tanto, que a cada momento se torna gigantescamente maior do que jamais imaginamos que algo podia ser justamente porque ate’ então nada o era!Um universo sem limites crescendo em todas as direções, engolindo tudo enquanto engorda e se torna maior, mas belo, mais misterioso... Mas,o que engole? Se o universo se expande nesse momento, qual o estatuto existencial, agora, do “espaço-nada” sobre o qual o universo avançará somente daqui a um segundo, dois minutos, dez anos... Sobre o que o universo avança? Sobre o nada? Avança sobre si mesmo, envergado por seu peso cósmico-relativístico...Toda vez que penso nestas coisas sinto algo inexplicável,como um bolo se formando em minha mente,na minha garganta,no meu peito,e por mais que eu pense,não saio um milímetro do lugar,mas se penso muito,sinto angústia.Talvez seja porque isto esteja para além da condição humana,da parte que nos cabe,do máximo que como seres humanos,podemos compreender. Quando o imenso e profundo véu da noite desce sobre a terra e eu fito da janela de minha sala as estrelas já extintas cujo brilho ainda se propagam e continuarão se propagando quando nascerem os netos dos meus netos,fica claro para mim,que se não posso entender o mistério,por isto mesmo,ele estará entre os anjos que acho mais belos e os demônios que mais me perturbam. Já me e’ difícil domar meu próprio gênio,relacionar-me melhor com as pessoas,respeita’-las sem interesse,amar verdadeira e sabiamente,brindar a vida como a vida merece ser brindada,trabalhar com prazer e eficiência superando desafios e subindo de nível e todas estas outras coisas... homens,mulheres,café,cigarros,casa,trabalho...coisas,inegavelmente,da dimensão humana na qual nossa estrutura densa de ossos,carne e sangue nos obriga,naturalmente a viver...e eu cá,quase tolo,ocupando-me a desvendar os enigmas do universo,como um velho Quixote,caminhando numa linha tênue entre a santidade e o delírio a genialidade e a loucura e vendo monstros gigantes onde se acham apenas grandes e belos moinhos.Logo eu,que conheço tão pouco de mim mesmo e que me iludo tanto.
Embora não possa concebê-lo, e’ como disseram os legionários urbanos:
O Infinito e’ realmente um dos deuses mais lindos!