Um SER, aparentemente feliz...

Avaliando a vida pelos olhos meus e sopesando as oportunidades que tenho arrisco, sossegado, dizer que já pesa em minhas costas o enfado da certeza de que já vivi o suficiente.

A velocidade que tenho de ir do céu ao inferno é violenta.

O que denota intolerância do velho avançado, não realizado e que, portanto, da vida já nada espera.

Quisera a mente fosse um gravador com play e replay para que pudéssemos rebobinar a fita e, lentamente, conseguíssemos transcrever para o papel os monólogos que sob efeito de vários sentimentos, inclusive o ódio e a raiva, num arranjo com a desesperança e o medo formulamos e conjecturamos, buscando razões que justificassem a vida, a fé, a paciência, a paz e os demais motivos, nobres motivos, que resguardam a esperança por dias melhores.

Várias foram as vezes que desejei que Deus me fizesse encontrar-lhe para que, então, pudesse fazer-lhe o pedido de me tornar um cara insensato; sem desconfiômetro; descarado; descompromissado e etc...So porque, vendo como sou, vejo que ser como pediria para ser seria uma pessoa mais feliz.

Esse tipo de pessoa não se toca que incomoda; não se toca que está fora de seus direitos; não enxerga seus limites; não exerce seus deveres; não percebe que os outros se cansam, mas antes, exigem mais para satisfazer seus desejos e só.

Pediria a Deus para que me fizesse um motorista que pára na vaga de idosos e/ou deficientes sem o menor peso de consciência.

Pediria que me fizesse um cara que não notasse estar fechando o bar ou o restaurante, mesmo que todas as mesas e cadeiras já estivessem guardadas, ás 2 da manhã, tendo o dispropósito de perguntar se já estavam fechando e, com a cara mais lavada possível, perguntasse exigindo que me servissem.

Um cara que ao chegar, olhasse para o dono do estabelecimento com os olhos vermelhos de cansaço; fisionomia baixa; cabalos brancos; mãos enrugadas e já fracas àquela hora - 14hs de trabalho duro - e não enxergasse nada disso, apesar de conhecer a rotina, mas sim, um "pião-butequeiro" que não faria mais que sua obrigação em me servir.

Pediria para me tornar um cara que chega em qualquer ambiente sem camisa, com cachorro e som do carro explodindo e assim permanecesse, virando as costas para fingir não ter visto uma enoooorme placa com os dizeres proibindo tais atitudes alí, constrangendo o comerciante de reclamar com um deus-freguês.

Pediria que me fizesse um cara que colocasse lâmpadas xenon ultra fortes nos faróis de meu carro e, sequer, cogitasse a possibilidade de poder estar atrapalhando seriamente a dirigibilidade do motorista que cruza por mim em viagem ou na cidade, pois, para mim, o que importaria mesmo seria o meu querer; a minha moda. "Os outros que fechem os olhos se os incomodam. Bateu, bateu!!! Morreu, morreu!!! Só lamento!"

Pediria que me fizesse um cara que o tempo todo agisse SÓ para se dar bem!!! Afinal, "malandro é malandro mesmo e o otário é otário mesmo...".

Pediria a Deus que me fizesse alguém garanhão. É bonito. Os e as elogiam; sorriem; apoiam. Um cara da gandais; da esbórnia; prostituto, afinal isso para os homens é a glória.

Que pudesse sair por aí, totalmente certo de meus direitos tais de ter 100 namoradas; meter com todas e engravidar mais algumas; iludí-las - não que as mulheres sejam santas inocentes, mas apenas creio serem mais românticas que os homens - e quando viessem me dizer estarem grávidas eu simplesmente dissesse "nunca lhe prometi algo. Fui!!!... Se vira!!!" Sem o menor pudor, claro!

Pediria a Deus que me fizesse alguém que consegue ser feliz, porque alguém como eu só sofre, com ódio das pessoas felizes que só veem seu próprio umbigo e parecem ser abraçadas por todos.

Não sinto inveja de ninguém. Apenas pareço ver e entender que pessoas assim são tidas por sonsinhas; coitadinhas, mas bacaninhas e assim, seguem sem perceber o direito dos outros.

O cara velho e cansado do texto é meu pai e o bar é nosso.

Portanto, é experiência própria que escrevo desse negócio.