Passeio pelos caminhos de Drumond.
Divagando com Drummond pelas ruas de Itabira.
Numa de minhas voltas a Minas precisamente para Itabira, pude ter a oportunidade de estar com Drummond, sentei ao seu lado e começamos uma conversa sobre a cidade e das coisas que se passavam. Ele me revelara que estava um pouco chateado com o processo de degradação da cidade, já não conseguia olhar para as serras desnudas, nem sentia o frescor daquele córrego, onde tantas vezes banhara, pescara lambaris e bagres, hoje estava escurecido e sujo de lama de minério de ferro.
Eu questionei, se ele não estaria um pouco rancoroso, pois para a cidade evoluir era impreterível, que as serras fornecessem o material tao cobiçado pelos gringos, o que faria de Itabira o centro, a capital do novo ciclo mineral. Lembrei a ele, que as autoridades até se preocuparam com suas memórias e refizeram sua casa e a incrustaram numa serra, com suas janelas voltadas para o seu Pontal, com aquela varanda onde antes deitava no final das tardes despojado numa rede, que ganhara de presente de um amigo Cearense estudante de Ouro Preto.
Ele sorriu para mim, e questionou sobre os pés de jabuticabas, em volta da casa, queria poder ouvir os cantos dos pássaros, o sabiá, bem te vi e daquelas rolinhas que todas as manhas se aglomeravam no largo terreiro de frente da casa. Ele não estava nada satisfeito com todo esforço, feito para resgatar sua memória. Veio com um assunto sobre os caminhos Drummonianos, que para eles estavam desinformados, depredados e pouco realçados. Ele ainda me lembrou, passeando pelo centro, que não podia ver as andorinhas no paredão da catedral, e lembrou rindo, que numa revoada, certa vez um delas deixou suas fezes caírem no manto negro do Pe. Zé Lopão. Ri muito imaginando as palavras sufocadas na boca do lendário padre, com aquele corpanzil se esquivando das fezes.
Neste clima de rancor e saudosismo, o convidei para dar um giro pela nova Itabira. Fomos para a entrada da cidade, no local chamado Areão, lá estava uma imensa estatua sua, bem como a sua Maria Fumaça de tantos viagens e sonhos. Mas de repente o mesmo ao deparar com a velha locomotiva e vê-la tao degradada, deixou cair uma lagrima e pediu para sentar ao longo do caminho de pedra. Eu estava sem argumento, pois ele queria saber onde estava sua maleta com todos seus manuscritos por editar, que fim levara? Ele me fez lembrar, que já haviam, lhe roubado os óculos na praia de Copacabana lá no Rio de Janeiro... Eu tentei persuadi-lo informando que em Salvador na praia de Itapoá haviam roubado o encosto da cadeira de Vinicius de Morais e até uma maquina de escrever de Jorge Amado numa avenida que leva seu nome. E que pior ainda, tinham levado o braço de Pelé, na frente do estádio Fonte Nova, deixando lhe sem sua amiga de tantos tempos e glorias. Que o povo andava um tanto quanto desmiolado.
Assim, numa tentativa desesperada de fazê-lo menos rancoroso e saudoso, convidei para recordar a infância e caminhar saltitante equilibrando pelos trilhos da linha férrea. Num instante pude ver renascer um largo sorriso infantil em seu rosto. Embrenhamos linha a fora, chegando até a estação. Pegamos o trem e seguimos viagem de retorno no tempo, deixando para trás uma Itabira atualizada no tempo e perdida na memória.
Alguns dias depois na minha caixa de correio, encontrei uma carta dele, onde dizia:
- “Meu amigo sonhador, estou todo feliz e prosa, devolveram meus óculos, e minha maleta com todos os manuscritos e uma foto da minha catedral antiga, ah, e ainda disseram que as andorinhas voltaram e que tem gente apostando, que já ouviu o canto da juriti lá pelos cantos da mata do Intelectos. Fraterno abraço de seu amigo CDA.”
atr/2009