PASSAGEM

Ela olhava a noite, sentia o vento que batia em seu rosto, e, por um instante lembrou-se que estava viva e que isso importava, afinal ainda havia muita coisa a se fazer...

Voltou a olhar a noite e achou nela grande valor. Não achava graça alguma na noite, mas tinha ouvido alguém falar que podia se ver grandes coisas onde menos esperamos. A verdade é que no momento ela não entendera muito bem, mais agora sim, ela podia ver!

E via muitas coisas, entendia grandes sentidos da vida que ate então, não faziam sentido algum...

Coisas, sempre Coisas... todos falavam e faziam coisas... E ela não entendia.

Coisas, sempre Coisas... ela falava e fazia coisas que nem ela mesma entendia.

Seu coração batia mais forte aquele dia, e ela não sabia porque mais tinha a nítida impressão de que depois daquele dia seu coração jamais seria o mesmo.

Ela pensava rápido demais, e suas sensações também eram rápidas o suficiente para que antes mesmo dela decifrar a primeira já se perdia nas demais, e isso a confundia muito. Se perdia em seus medos e anseios, desejos escondidos no mais profundo de sua alma. Objetivos, viagens e sonhos que a moviam, a controlavam e faziam com que ela avançasse.

Alma... Onde estava a sua? Ela não sabia responder. Havia perdido em uma qualquer esquina por ai... Mais isso também já não mais importava. Sua vida era vaga demais para tantas preocupações. Só restavam lembranças. Alegres e tristes, apenas lembranças.

Mais era tão jovem. Tanto tempo já havia se passado, e tanta coisa já havia vivido. E o que era a vida diante de tudo aquilo? Já não havia mais nada a dizer... Ela preferia morrer, tranqüila, mas morrer. Do que ter que se conformar. Não queria ser mais um deles... Isso nunca, jamais... Por isso era preferível deixar de existir...

Ela porém não podia partir assim, ou então de nada adiantaria ter vivido, sofrido e lutado tanto.

Era preciso deixar algo, algo que demonstrasse bem toda a sua vida. De um modo geral, era preciso que o mundo soubesse da sua medíocre passagem pela face da terra.

Deixar registrado sua história, seus passos, seus momentos, conquistas, sentimentos... Mostrar a todos ou mesmo a ninguém, ela queria que ao menos o vento e outras criaturas, que tanto compartilharam de tamanha sabedoria, ao menos eles soubessem de seu caráter. Mesmo que suas mentiras fossem reveladas, mesmo que não a entendessem jamais. Alguém precisava saber o motivo de tudo aquilo, saber que ela era apenas uma menina sonhadora, que só queria ser feliz!

Mas ela estava embriagada da vida, embriagada demais para conseguir raciocinar... e seus pensamentos, e suas memórias passavam como jatos, ela não conseguia. Então ela adormeceu. Um sono doce e profundo a raptou desse mundo por um longo tempo...

Daiane Alves
Enviado por Daiane Alves em 11/12/2009
Código do texto: T1973064
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