Marechal Rondon: "o pai dos índios"
O Marechal Cândido Rondon defendeu e protegeu os índios como se fossem seus próprios filhos. Desta feita, e com a intenção de preservar as culturas indígenas, criou, em 1910, o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), fundando assim a política indigenista no Brasil. Rondon também foi sertanista, militar, geógrafo e engenheiro de comunicações telegráficas.
Nosso herói percorreu as fronteiras do país, do Norte até Santa Catarina, sendo diretor da comissão que construiu as estações e redes de linhas telegráficas, desde o estado de Mato Grosso e Goiás até o Amazonas. Aceitara o desafio que o presidente Afonso Pena lhe propusera, de estender as linhas telegráficas até o Amazonas e o Acre, para onde seguiu com a “comissão Rondon”, explorando terras indígenas, desbravando sertões, se empenhando-se também em pesquisas linguísticas, geológicas, etnográficas, botânicas e zoológicas.
Até 1917, a comissão Rondon construiu 2.270 km de linhas telegráficas e instalou 28 estações que deram origens a vários povoados. Também realizou o levantamento geográfico de cinquenta mil quilômetros de terras e de águas, determinou duzentas coordenadas geográficas, inscreveu no mapa brasileiro 12 rios e corrigiu enganos a respeito do percurso de outros.
Todo esse trabalho de construção de linhas telegráficas e toda essa perseverança de Rondon na luta pela integração indígena contribuíram para que ele fosse notado, conhecido e bem-visto nacional e internacionalmente. Todo esse prestígio se deu também pelo reconhecimento do seu famoso lema: “morrer, se preciso for; matar, nunca!”, o que demonstra ser um tipo de herói que não pretendia fazer guerra e derrotar os índios (supostamente inimigos), mas, sim, insistir na luta à procura da paz e da pacificação indígena, a qual Rondon obtinha com muito esforço.
Para entender o quanto Rondon foi importante na história indígena do Brasil, é preciso conhecer a sua história desde o início de sua trajetória, mais precisamente a partir de seu nascimento, seguido de uma infância sofrida por causa da morte de seus pais, porém vivendo momentos felizes ao lado do seu tio em Cuiabá, onde gostava de dar uns mergulhos e se banhar no rio Ameão Grande. É necessário perceber que desde seu nascimento, Rondon é vinculado aos índios em relação aos seus antepassados.
Marechal Rondon nasceu no dia 5 de maio de 1865, no Mato Grosso. Ele é descendente da tribo Bororo por parte de suas bisavós maternas. Corre também em suas veias o sangue indígena das tribos Terena e Guaná. Devido à morte de seus pais, em 1873, Cândido Mariano da Silva foi morar com o seu tio, em Cuiabá. Lá matriculou-se na escola particular de Mestre Cruz, pelo fato de já se terem acabado as matrículas das escolas públicas. No ano seguinte, foi estudar na escola pública do professor João B. de Albuquerque. Cândido terminou seus estudos primários em 1878 e, no ano seguinte, matriculou-se no Liceu Cuiabano. Logo após se formar como professor primário em 1881 com apenas dezesseis anos de idade, ele viajou para o Rio de Janeiro a propósito de se matricular na Escola Militar da Praia Vermelha que, na época, era a meta de muitos jovens das províncias.
Após a chegada ao Rio de Janeiro, Rondon foi morar no alojamento dos cadetes. Passou por algumas dificuldades no princípio de sua chegada. Pouco tempo depois, foi designado para servir como amanuense na Secretaria do Quartel General, tendo agora a possibilidade de alugar um quarto para morar. Em 1883, inicia seu curso de preparatórios, cursa o primeiro ano e requer os exames vagos de segundo e terceiro, procurando abreviar o tempo de espera. Cândido “tirou de letra” o primeiro, segundo e terceiro ano graças aos seus estudos em Cuiabá e, em 1884, já estava habilitado a fazer o curso superior. No ano seguinte, porém, a intensidade dos estudos e a má alimentação provocam um sério problema de saúde no nosso herói. Mas, seguindo uma dieta balanceada com alimentos leves, em especial frutas, Cândido se recuperou e conseguiu terminar seus estudos com facilidade.
Em 1886, Rondon se destacou nos exames e foi nomeado Alferes-aluno. Em seguida, foi encaminhado à Escola Superior de Guerra. Lá ele assumiu, em 1888, um papel ativo no movimento pela proclamação da república, implantando idéias positivistas, juntamente com outros alunos e seu professor Benjamim Constant.
Em janeiro de 1890, Cândido Mariano graduou-se como Bacharel em Matemática e Ciências Físicas e Naturais da Escola Superior Guerra. Foi nessa mesma época que ele adotou o sobrenome Rondon em homenagem ao seu tio e, tendo requerido e obtido autorização do Ministério da Guerra, passou a assinar-se como Cândido Mariano da Silva Rondon. Em todo este pequeno percurso da sua vida, ele absorveu a ideologia Positivista e participou dos movimentos abolicionistas e republicanos com seu professor Benjamim Constant, o fundador da república brasileira.
Em 1891, ocupa o cargo de professor-substituto na Escola Militar da Praia Vermelha. Rondon se casou com Francisca Xavier no dia 1º de fevereiro de 1892 e juntos tiveram 7 filhos. Nesse mesmo ano, após ter renunciado o cargo de professor-substituto, Rondon foi nomeado chefe do Distrito Telegráfico de Mato Grosso. Daí então foi designado para a comissão de construção da linha telegráfica que ligaria o estado de Goiás a Mato grosso. Durante o trabalho de melhoramento das instalações de linhas telegráficas Cuiabá a registro do Araguaia, em 1892, Rondon estabeleceu relações pacíficas com a tribo Bororo de Garças. Rondon foi promovido, por merecimento, a capitão do corpo de Engenheiros Militares. E, em 1893, inicia os trabalhos pela construção de pontes e outras obras, dando continuidade à ligação de Cuiabá ao Araguaia.
Em 1894, Rondon foi nomeado chefe da comissão de ligação de linhas telegráficas de Cuiabá ao Araguaia. Durante essa extensa missão, Rondon abriu caminhos, desbravou terras, lançou linhas telegráficas, fez mapeamentos e estabeleceu relações com os índios. Manteve contato com várias nações indígenas, entre elas os Bororo, Nhambiquara, Urupá, Macuporé, Jaru, Karipuna, Ariqueme, Guaraya. A missão foi concluída em 1897.
Em 1898 Rondon ingressa na Igreja positivista, a religião da humanidade. Ela é uma doutrina que ambiciona religar os homens. No Positivismo, a crença em seres e fenômenos sobrenaturais é substituída pela adoração e entendimento de uma nova Trindade: não mais o Pai, o Filho e o Espírito Santo, mas sim a Humanidade, a Terra e o Espaço. A sua Fórmula Sagrada é o Amor por princípio, a Ordem por base, o Progresso por fim. E a sua Fórmula Moral é viver para outrem. Com esse conceito, o objetivo de Rondon não era matar, mas sim pacificar os povos indígenas.
Em 1900, Cândido Rondon foi nomeado chefe da comissão encarregada da construção das linhas telegráficas no estado de Mato Grosso. Ele construiu as linhas telegráficas, fazendo a ligação da capital ao sul do Estado. Três anos depois é promovido, por merecimento, ao posto de major do corpo de engenheiros Militares. Entre 1900 e 1906 dirigiu a construção de mais uma linha telegráfica de Cuiabá a Corumbá, alcançando as fronteiras do Paraguai e da Bolívia. Em 1907, foi nomeado chefe da construção de linhas telegráficas de Mato Grosso ao Amazonas e começa a fazer expedições no sertão Brasileiro, na região noroeste do país.
Até 1913, a comissão Rondon, além de construir linhas telegráficas, também construiu laços de amizade com nações indígenas brasileiras, algumas delas foram: Parnawát, Arikême, Takuatep, Ipotewát, Karitiana e Urumí. Neste mesmo ano, Rondon obteve uma grande missão: acompanhou o ex-presidente norte-americano Theodore Roosevelt na sua expedição ao Amazonas. Este foi um dos grandes trabalhos de Rondon, a organização da expedição que acompanharia o ex-presidente dos Estados Unidos, através dos sertões do Brasil, do rio Paraná ao Amazonas. Para acompanhá-los, convocou uma equipe de expedição que incluía cientistas e geógrafos para fazerem um levantamento geográfico de toda a região. Por mais de um ano, Rondon conduziu a expedição e mapeou rios, demarcou fronteiras, catalogou tribos, corrigiu erros de demarcações e até descobriu um rio ao qual deu o nome de Roosevelt. A expedição foi concluída em 26 de abril de 1914. Em setembro de 1913, Rondon foi surpreendido ao ser atingido por uma flecha envenenada pelos índios da tribo nhambiquara, porém foi salvo pela bandoleira de couro de sua espingarda.
Durante sua vida, Rondon obteve muitas conquistas e, consequentemente, obteve várias homenagens e medalhas. Dentre elas, em 1913, ganhou uma medalha de ouro por trinta anos de bons serviços prestados ao Exército e ao Brasil. No dia 5 de maio de 1955, quando completou 90 anos, Rondon recebeu o merecido título de Marechal do Exército Brasileiro, concedido pelo Congresso Nacional. No ano seguinte, no dia 17 de fevereiro, o Território Federal do Guaporé teve seu nome alterado para Rondônia, em homenagem a Rondon. Em 1957 foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz pelo Explorer's Club, de Nova York.
Rondon e sua comissão pacificaram diversos povos indígenas durante todas as expedições e construções de linhas telegráficas, alguns deles foram os Bororos, os Caiamos, os Guaicurus, os Umutinas, os Nambikuáras, os Tiriós, os Pianocotis, os Uachiris, os Cavaleiros, os Ofaiés, os Terenas, os Quinquinaus, os Paresis, os Kaingángs, os Xoklengs, os Botocudos, os Kepkiriwáts, os Parnawáts, os Urumis, os Arikéns, os Rama-Ramas, os Urubus, os Parintintim e, por último, os Xavantes, em 1946.
Neste pequeno resumo de sua trajetória, podemos perceber o quanto Rondon foi importante para o Brasil, principalmente na questão indígena e telegráfica, onde atingiu todos os seus objetivos e se empenhou para conseguir um futuro melhor para nosso país. Sem dúvida, Cândido Mariano da Silva Rondon foi, é e sempre será o patrono das comunicações. O dia 5 de maio é a data em que se comemora o Dia das comunicações no Brasil em homenagem a Rondon. Aos 92 anos de idade, Rondon selou para sempre seus tempos de glória aqui na terra. Tempos de conquistas, de felicidades e de esperança na busca pela paz.
Nosso aventureiro utilizou o lema: “bem servir à humanidade, servindo à pátria” como um motivo a mais para a continuação dos seus trabalhos em relação ao Telégrafo no Brasil. E, foi assim que ele conseguiu, com muita dedicação, construir as linhas telegráficas que, naqueles tempos, era o principal meio de comunicação existente em nosso país. O Brasil se orgulha de um dia ter tido um importante colaborador para o seu desenvolvimento.