Breve apontamento sobre o reinado de D. Duarte

O traço mais importante a se perceber durante o curto governo duartino foi o de ser marcado pela campanha ao Marrocos. Desde o reinado anterior ja existia uma conjetura de se fazer uma "cruzada", insitada principalmente por D. Henrique, a Tânger de modo a inibir a ameaça moura a Ceuta. Na verdade todo o norte d'África fazia parte dos anseios do infante em se apossar de Gilbraltar. Com a morte de D. João I e com o principe regente ja na categoria de rei, todos os esforços, ou pelo menos boa parte deles, se destinaram a dita cruza. São numerosas as petições feitas ao Papa para que se emitissem bulas que concebessem indulgências aos que participasse da guerra. No entanto tanto da parte nobreza como da população não via uma perspectiva muito otimista em relação à conquista. No texto de Joaquim veríssimo Serrão é altamente destacado o numero de cartas contrárias à expedição levando em conta não só o desgaste economico, como também o insustentabilidade ideológica da causa. Numa carta o conde de Barcelos expõe abertamente sua posição:

" Asy que o louvor he no acatamento da cousa. O qual acabamento he muito duvjdoso he asy imposível de ser bom. Tende olho ao bem que he dito"

(Serrão, 1977)

No entanto tal expedição, se bem lograda, poria Portugal a frente de seus vizinhos. Sem falar que havia um interesse de uma juventude cavalharesca de mostrar o valor de seu braço. O que se pode perceber que toda uma conjetura ia de encontro aos anseios do monarca. Que razões levaram então a D. Duarte a emprender tal façanha? O texto de Serrão diz que foi devido a influencia d'O navegador. Numa carta emitida por este ao rei o leitor percebe claramente um teor de excitação à causa. O ponto final deu-se quando D. Henrique nomeou seu sobrinho, o infante D. Fernando, como seu herdeiro. Visto isto D. Duarte convocou a corte para reunir fundo em favor da expedição. Esta deu-se por em setembro de 1438. O comando foi entregue a D. Henrique. Com apenas 5000 homens e como sérias falhas cometidas pelo Navegador a expedição dos sonhos acabou tornando-se um pesadelo. A 12 de outubro a frota se rende e D. Fernando, filho de D. Duarte fica sob custódia dos mouros como penhor da entrega de Ceuta.

As negociações sobre a libertação do infante viriam a marcar a última fase do governo duartino. Por um lado haviam os "ditames do coração" e por outro entregar Ceuta seria abrir mão de um importante ponto estratégico no norte da África. Em 1438 morre D. Duarte sem ter se resolvido a querela. Em seu testamento ele entrega a regencia a sua esposa D. Leonor até que seu filho, D. Afonso V, atingisse a idade de 14 anos.

Apesar do curto mandato, D. Duarte mostrou-se um rei bastante ativo. Durante os cinco anos convocou a corte 4 vezes para decidir assuntos do reino. Sem falar que, por ter uma criação dentro de uma ordem religiosa e militar, era bastante amante das letras e o da ciencia da época o que lhe deu o apelido de Rei filósofo, além de o Eloquente. Ja não é válida a visão de um rei pusilânime ou abúlico, mas de alguém que sabia ser político e abrir-se ao diálogo. A questão é que não dá pra fazer muita coisa em apenas um lustro, causa essa de seu reinado ser um pouco apagado na história das monarquias portuguesas.