NOTA SOBRE COTAS RACIAIS

Não é que a implantação de cotas raciais não seja justa, mas que seus efeitos colaterais sejam muito complicados e graves em esferas maiores que a da universidade.

As manifestações e formas veladas de discriminação dentro das próprias universidades em relação aos cotistas e às cotas nem se aproximam da convulsão existente fora dos campi. A tese de que a existência das cotas pode aumentar a hostilidade entre os grupos sociais é verdadeira, a própria discussão atual já apresenta isso. Volta e meia aparece este tema nos jornais e, na TV, da forma como é tratado, revela a força quantitativa de pessoas contrárias às cotas. Entre as quais, as que não acham justo cotas raciais. Mas o entendem também por alguma mecânica de pensamento, e não sempre por interesse de classe, como apontam alguns.

Dessa acusação é fácil já perceber um sintoma da maniqueização recíproca entre os dois grupos de opinião diferente e exatamente aí que começa o problema de hostilidade. O que irá se desenvolver para a classificação simplória, artificial, superficial e tosca dos brasileiros em brancos, negros e índios e chegará à vida cotidiana sob forma de disputa – na escola, no mercado de trabalho, na Internet, na rua...

Sabemos que não é apenas o poder aquisitivo que obsta o caminho dos cidadãos à sua realização social, no entanto, enquanto o pensamento da sociedade der potência a um conflito interno generalizado, o custo-benefício será péssimo para um país que em raros momentos se sente nação.

É preciso dedicar esforços às cotas sociais, cujo benefício e necessidade são mais claros e inteligíveis e em torno das quais o consenso é maior. Quanto a conflitos entre as classes sociais que isso pode gerar? No sentido de que no Brasil há uma falsa paz com “cada um em seu lugar”, ela é bem-vinda e necessária.