Um Pensamento Diferente
Carlos, um garoto de doze anos que mora na Vila Perdida, um bairro carente da Cidade. Diogo,um garoto de mais idade que mora no Pascoal, um bairro nobre que fica alguns Quilômetros da favela.
Duas vidas diferentes mas com uma mesma pergunta: Eles são felizes?
Segunda-feira, as cinco em ponto da manhã do dia vinte e três de dezembro de mil novecentos e noventa e dois, Carlos, como sempre, levanta do “chão” onde dorme toda noite, entra num “banheiro” apertado com os pés descalços e no mínimo toma seu banho gelado de gato... Vesti sua roupa simples e seu sapato furado, sai de casa para ajudar seu pai e com uma carroça junta o lixo que para ele vale muito.
__Poxa! Bem que eu poderia estar na escola estudando para ser alguém na vida! Pensava Carlos puxando sua carroça.
Neste mesmo instante a seis em ponto, Diogo se aprontava para escola, era dia de prova de português, mas não havia estudado e como sempre, antes de sair de casa reclamava com sua irmã por coisas banais e chingava ela com palavras fúteis e maldosas, pois não era de se esperar que Diogo, na semana que passou levou três dias de suspensão por agredir verbalmente seu professor de português e seus pais nem ficaram sabendo do acontecido.
A caminho da escola no carro de sua mãe , Diogo olha pela janela e por coincidência vê Carlos parado e chorando, e por impulso com o carão para fora do vidro gritou:
__Seu “Zé ninguém”, @#$%¨&*§, seu sujismundo...
Naquele momento para Carlos nada mais importava, pois seu pai havia sido atropelado do outro lado da rua e em pensamento disse:
“Oh, meu Deus, porque neste mundo só existe mais maldade do que bondade?!!!”.
Carlos sem ter o que fazer naquele momento, abandonou a carroça e foi direto para casa correndo.
Enquanto isso na escola de Diogo, sua prova tinha sido cancelada e o grande motivo foi a visita de uma ONG responsável por crianças que moram nas ruas e que não frequentam a escola, apresentavam um palestra sobre o assunto.
Digo nem um pouco interessado foi obrigado a assistir a palestra. Quando ele viu a realidade no vídeo e explicações da palestra, lembrou quando algumas horas atrás chingou um garoto carente e se sentiu culpado e triste pelas suas maldades.
Carlos então, chegava perto de sua casa no morro, quando ao longe via carros de polícia e bombeiros entre nuvens negras e acinzentadas de fumaça, seu coração batia forte e ao ver que sua casa estava em chamas se desesperou, pois sua mãe estava lá. Para ele tudo estava perdido até ver sua mãe dentro de uma ambulância e por sorte ela estava bem.
No mesmo momento, do outro lado da cidade, Diogo começou a mudar seus pensamentos ruins e teve vontade de ajudar aquele menino que viu a caminho da escola. Ao chegar em casa mais cedo, Diogo viu sua mãe aflita e chorando. Diogo surpreso perguntou:
__Mãe, mãe, o que aconteceu? Diga logo!!!
__Meu filho, seu pai foi preso. Respondendo a mãe com as mãos no rosto entre lágrimas.
O pai de Diogo foi peso em flagrante por omissão de socorro após atropelar um senhor mal vestido com um pedaço de pão na mão que ia dar para o seu filho...
Depois de um ano a vida de Carlos não foi mais a mesma, pois piorou muito, virou morador de rua e a cada dia que passava se sentia inútil e sem valor, sua única saída naquele momento eram as drogas...
Já a vida de Diogo continuou a mesma, mas só houve algumas mudanças. Seu pai saiu da cadeia após pagarem sua fiança com a ajuda de um advogado. Na escola seu comportamento mudou para melhor e seu lixo mental foi eliminado da sua vida.
Calos, no dia de seu aniversário fazia treze anos, no farol pedia moedas entre os carros descalço numa garoa fina no centro da cidade. Parou em um carro preto e perguntou ao motorista:
__Senhor, por que neste mundo só existe mais maldade do que bondade?
__Porque a maioria das pessoas são incrédulas. Respondeu o motorista com um olhar de tristeza.
Seu filho ao lado chamado Diogo, com um pacote de bolacha na mão pediu para que seu pai desse para o menino. Agradecido, Carlos saiu com o olhar atravessado e um sorriso no rosto. Ao abrir o farol, com o carro em movimento o pai de Diogo percebe algo diferente nele.
__Você esta diferente filho, o que foi?
__Pai, eu acho que já vi aquele garoto em algum lugar!
__Onde filho?
__Não sei, eu não me lembro! Mas espero que ele saia dessa vida ruim e que seus pensamentos fúteis desapareçam igual ao que aconteceu comigo...