É Pra Ontem!
Vivo em uma metrópole onde não se encontram as pessoas. E por não se encontrar as pessoas temos que deixar mensagens em relatórios diários.
O dia e os afazeres precisam ser declarados e acabamos nos conhecendo pelos papéis (digitados de preferência para que sejam legíveis).
Não encontro meus supervisores nos locais onde trabalho, mas eles deixam recados para mim. Na grande maioria são cobranças, que procuro cumprir, desde que entenda exatamente o que eles querem.
No mundo em que vivo o teste de sobrevivência rouba o meu sono. Preciso não dormir para dar conta de tudo e prestar contas (em bilhetes). E não pensem que as exigências entram de férias ou param um só instante.
Mas o pior de tudo é conviver com o mau-humor alheio. Às vezes nenhum cumprimento. No máximo bom dia! Boa tarde ou boa noite! Já confundi todos os três horários como solução, convencionei responder sempre “Bom” ou “Tudo bem e você?”. E não adianta esperar a resposta.
Não sei até que ponto isso é um cumprimento ou afirmação da formalidade das relações de trabalho. Uma coisa é certa: Marca a rotina diária.
Vivo em um universo que me deixa uma grande dúvida: Será que realmente vivo ou virei máquina pós-industrial?