A NEUROTIZAÇÃO OCIDENTAL DO ENVELHECIMENTO

O tempo passa?

É mais que certo que somos nós a passar por ele.

E quem somos nós?

A princípio uma complexa expressão final duma "receita de bolo" cujos ingredientes são controlados por duas hélices genômicas, o nosso DNA.

E no decorrer deste nosso APRESSADO tempo que não passa, somos nós que nos transformamos de maneira mais ou menos acelerada.

O mundo ocidental enfrenta o envelhecimento culturalmente de forma bem distinta dos orientais: a meu ver de forma neurotizada. Triste de se ver...

A toda hora de todos os dias, basta que "antenemos" nossa atenção e sempre há um produto sedutor e milagroso na tal indústria que promete a eterna juventude, sendo oferecido pelas artes, pelo comércio e até pela ciência.

Há um verdadeiro terror em se constatar "velho".

Então, dia desses eu ouvia uma entrevista que versava sobre as alterações na pele das mulheres na peri e pós menopausa, na qual o próprio especialista colocava como "terror" as transformações gradualmente já existentes no decorrer da vida, e que se acentuam demasiadamente nesse período do ciclo feminino. Achei muito estranha aquela abordagem.

Pois bem, é verdade que nos transformamos.

Mas é verdade também que envelhecemos desde que nascemos e por enquanto não há como se fugir disso. Apenas paliamos os processos que ocorrem de forma muito heterogenea entre as pessoas.

Num país tropical no qual corporalmente nos expomos mais, talvez parte dessa neurose toda se explique pela ditadura a se cumprir os padrões de beleza pré determinados pela moda.

A moda.Sempre ela.

O que é triste de se ver é que pessoas se entregam à tal ditadura e muitas vezes deixam de viver. Ou até se transformam "ridiculamente" sem tomarem consciência de tal.

Já comentei por aqui de pessoas que se expõem a riscos cirurgicos desnecessários para transformarem aquilo que ninguém enxerga: somente elas...e seus "especialistas"...em tudo.

Ainda outro dia vi alguém lipoaspirar dois centímetros de culote no auge da beleza dos trinta anos.

A pergunta que lanço é a seguinte: o que tememos do tempo? Por que que temos tanto terror em nos constatar passando pelo tempo?

Seremos rejeitados? Seremos esquecidos? Não seremos mais amados?Por acaso o amor é um sentimento "estético"? Precisamos mesmo de tantas" plástica do corpo" ou muito mais de renovar as luzes do espírito? Talvez o único elo de juventude que nos liga a tudo e a todos...

Uma pessoa feliz sempre é mais jovial e bonita...

Tanto se fala em cremes, laser, cirurgias, botox, ácidos, peelings, mas o que deveríamos temer são as doenças que advêm da falta de cuidado com a saúde no geral. Elas sim poderão ser motivos de pânico, não uma pele naturalmente menos elástica.O fumo, o stress, o sedentarismo, a má alimentação, as drogas, enfim, grandes contextos culturais modificáveis são os responsáveis pela aceleração do envelhecimento, não apenas "por fora" mas principalmene "por dentro".

Não há como se aplicar botox NA INTIMIDADE DAS CÉLULAS e restaurar as agressões ao DNA. Ao menos por enquanto.

Não estou aqui a negar que é dever de todos cuidarem da aparência do corpo, apenas discuto os ATUAIS meios desenfreadamente neuróticos de se fazê-lo, incentivado por tantos outros interesses nem sempre tão claros...aos mais distraídos.

Penso que nosso maior desafio, nesse século que já nos promete uma maior expectativa de vida, é o de fazer da nossa "receita gênica" o melhor "bolo" possível para que comemoremos tantas primaveras com melhor qualidade de vida. Grande parte deste milagre está nas nossas mãos.

E vamos melhor preparar o nosso fôlego para que sopremos as muitas velinhas da posteridade.