A Onda

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ONDA

Diante de uma sociedade contemporânea onde o rito da liberdade de conduta e costumes se pronuncia poderemos contemplar uma postura autocrática em nossos sistemas socio-politico-cultural. Basta a letargia do comodismo, da paralisia da elite pensante para que o momento se ofereça àqueles que barganham as insatisfações do povo. Sempre dispostos e com um persuasivo discurso reivindicatório de igualdades uniformizadas, impõem a uma massa acesa de contrariedades a convicção de imperativas mudanças de caráter reacionário que repete os mesmos erros do passado. A dinâmica social exibe um líder que num dado momento explora o flanco debilitado do imperialismo do capital burguês. Insinuações de toda ordem são paulatinamente repisadas, vocacional peroração que exalta as conflagrações dos interesses do poderoso e do oprimido, do dominante e do dominado; euforicamente se propõem numa tabula rasa liquidar as diferenças, escondendo, no entanto os reais propósitos. O protagonismo da ação se firma na unidade, na conjugação da ordem e da disciplina, no respeito e obediência inconteste da união prolatada, então ações expressas são promovidas. Nesse clima se estabelecem, criando uma comunidade sectária de resoluções, decidida a levar avante o fascínio por uma nova arrumação numa tentativa de equilíbrio de forças. A radicalização, os excessos comprometem qualquer manifesto. Tamanho atavismo faz arder a eugenia latente no grupo, a ponto de criarem toda uma simbologia e signos que os distingam dos demais. Signatários de preconceitos eliminam todos aqueles que não comungam com a sua ideologia e que a historia humana definiu como fascismo. A produção do filme A Onda problematiza a questão levando-a a uma sala de aula. Um professor de perfil moderno, preterido no seu tema escolhido é compungido a dar uma palestra sobre Autokratie. A aventura pedagógica demanda uma peregrinação de cinco dias. Os componentes dessa caravana são jovens de miúda experiência e conhecimento o que os leva a uma saga comportamental que extrapola os limites aceitos por uma coletividade constituída. Wenger, o popular e carismático educador em sua primeira aula indaga de seus educandos o que eles entendem por autocracia. Variadas colocações são postas e uma delas - ditadura, faz com que questione a classe se esta não seria mais possível na Alemanha. Deixa a reflexão para após o intervalo. Quando os alunos retornam, encontram suas mesas rigorosamente arrumadas. Estranham, em seguida propõem que autocracia repercute uma ideologia, controle, supervisão, descontentamento ao que Wenger acrescenta a presença de uma figura modelo. Inicia-se a instalação do seminário visando representar o regime totalitarista. Elegem-no ditador e este determina que se dirijam a ele com o honorifico Senhor, ordena que removam todo o material das mesas, impõe o pedido de licença para falar, se autorizado que fale em pé. Corrige a postura da classe, expulsando os discordantes. Medida extremada. Ainda mais, concebe no dialogo mantido que o alto desemprego, injustiça social, inflação alta, indiferença política e consciência nacional são elementos pontuais para a fixação de uma ditadura. Atônitos e ao mesmo tempo entusiasmados com a perspectiva de exercitar o novo legado, os alunos batizam o grupo de A Onda e de forma criativa estabelecem o movimento desta num signo e sinal que revelará a marca da congregação. De posse da hierarquia recebida esparramam por toda a cidade o símbolo instituído. Nota-se o conflito reinante nas relações familiares e entre os desiguais, que por sua vez espalham panfletos contestatórios da atividade exacerbada e preconceituosa levada a cabo pela unidade autocrática. Por ocasião de um jogo de pólo aquático no complexo estudantil a situação incendeia-se deflagrando uma grande confusão. Com a situação fora de controle, o professor convoca uma reunião com o grupo. A imprensa local noticia o vandalismo praticado e quer saber dos responsáveis. Perante a classe o professor pede desculpas e dá por encerrado A Onda. Não podia imaginar as seqüelas produzidas em seus correligionários, visto que um deles numa atitude imprevisível saca de uma pistola, fere um companheiro, suicidando-se em seguida. Olhos de ódio e de estupefação acompanham o mentor que é conduzido preso por tal ignóbil feito.

paulo costa

setembro/2009

paulo costa
Enviado por paulo costa em 14/09/2009
Código do texto: T1809119
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