Os Grapiunas
O mulato João Vicente, um grapiúna, ao chegar a São Paulo, espanta-se com o tamanho e agitação da cidade grande. A partir daí, o autor traça um paralelo através das memórias de seu personagem entre a cidade e o cotidiano do campo, mais precisamente nas roças de cacau onde até então vivera João Vicente.
Até o décimo primeiro capitulo, quando se encerra a primeira parte do livro, o mulato João Vicente oscila em suas memórias entre a cidade grande e as lembranças do dia a dia de suas experiências na vida do interior. A partir do décimo segundo capítulo, segunda e ultima parte do livro, as memórias fixam-se em definitivo na região grapiúna, conforme palavras do narrador: “As lembranças vieram-lhe à mente; definitivas. João Vicente deu um mergulho de vez no passado”.
A essa altura a história toma forma linear; objetiva, clara; explora a luta pela emancipação de um município, a substituição do nome de um vilarejo e a ascensão política do protagonista, o vereador Afonso, e seu antagonismo em relação ao coronel Gonçalves, poderoso dono das terras do Vilarejo de São João do Panelinha e inúmeras fazendas da região.
Os Grapiúnas têm como pano de fundo a luta pela posse das terras do cacau, mola mestra da economia da região, da qual, segundo o narrador, todos são dependentes.
Observe-se trecho do primeiro capítulo: “o cacau era a mola propulsora da riqueza e do progresso da região. Dele dependia o filho do coronel para concluir o curso superior, a pós-graduação no Rio de Janeiro, São Paulo ou Paris. Era-lhe também dependente a humilde lavadeira para receber seus soldos dos coronéis do cacau”.
“As doces meretrizes, os bêbados, os jogadores. Todos, sem exceção careciam dele para sobreviver naquela terra bruta”.
“Os poetas, os trovadores, cantavam-no em verso e prosa, como Jorge Amado, o maior de seus romancistas”.
É lírico Olympio Ramos: “Lá fora era belo o dia; a passarada chilreava alegre, uma sinfonia! O vento norte soprava manso...”.
A narrativa é bem humorada: “Acaso alguém se atreva a pensar que o pai d’égua aqui não fala a verdade, vou logo exigindo respeito porque não sou homem de pouca mentira...”.
Quem é Olympio Ramos:
Esse grapiúna, nascido em Camacan, cidade situada à cerca de oitenta quilômetros de Itabuna, terra de Jorge Amado, estréia tardiamente no mundo literário, aos quarenta e sete anos, trazendo-nos à luz seu primeiro romance, Os Grapiúnas.
Olympio Ramos até os dezenove anos viveu e vivenciou a dura labuta do peão nas roças de cacau. Dessas experiências ele nos traz argumentos para compor os personagens e as situações em seu primeiro romance.
Em 1997, Olympio Ramos participou do concurso literário Casa das Américas, em Havana, Cuba. No mesmo ano participa do concurso Guimarães Rosa em Paris, França. Recebe dos organizadores carta-convite para se fazer presente em de outros eventos da categoria. Não o faz em virtude de estar empenhado na composição de um novo trabalho.
Em 2002 a obra é aprovada pela Transpetro, uma subsidiária da Petrobrás, no entanto, o departamento jurídico da estatal veta o projeto sob a alegação que a empresa não poderia patrocinar funcionário que trabalhasse em seu sistema. Olympio Ramos era colaborador terceirizado da indústria.
Se o escritor se revela tardiamente nas letras, isto é o que menos importa; antes tarde do que nunca! Esperamos ver Os Grapiúnas botar o pé na estrada, atravessar o além-mar, correr mundo. Mostrar aos amantes da boa literatura o lirismo da prosa de Olympio Ramos.
Contatos com o autor:
olympiorammos@gmail.com