O caso do cientista gay

MATÉRIA: Britânicos buscam pedido de desculpas a cientista

gay

Alan Turing, considerado um freak pelas autoridades do governo britânico, dada a sua conduta não convencional; não impediu que o mesmo fosse convencido a colocar seus conhecimentos a serviço do departamento de análise criptográfica. Tal recrutamento deu-se no ano de 1938, véspera da Segunda Guerra Mundial. Especialista em matemática, definiu a inteligência artificial conceituando uma máquina que pudesse realizar qualquer cálculo a comando do ser humano. Despertado o interesse diante das possibilidades concretas que o projeto continha, secretamente internaram-no em Bletchley Park. Sua dedicação e capacidade levaram-no a decodificar o Enigma, engenho criptográfico germânico utilizado para transmitir mensagens cifradas. A interpretação dos sinais embromou a ofensiva alemã na consumação do crepe das famílias. Mas nada disso vazou dos muros de Buckinghamshire, condado ao sul de Londres. Sua anônima figura delineada pelo sigilo imposto é capturada pelo preconceito social, disposto a expurgar do seu meio todo aquele que não convir das suas posturas arraigadas por costumes e hábitos cultivados por uma prevenção descabida. Seu crime? Ser homossexual! E de nada serviu a sua contribuição cientifica em prol do conhecimento humano. A sua índole considerada perniciosa aos bons costumes vitorianos, invalidou o álibi que supostamente tinha construído. Permutou a prisão por aplicações de estrógeno que o levaram a decadência orgânica. Desrespeitado pelos seus pares oficiais; impedido de freqüentar o seu local de trabalho - por julgarem-no um fraco – dado o inescrupuloso avanço da Guerra Fria, morre ao comer uma maçã envenenada. Patético e melancólico destino desse cientista a quem o mundo deve muito, apesar do silencioso pronunciamento dos governantes ingleses. Foi preciso mais de cinqüenta anos da sua morte para o programador John Graham-Cumming, indignado, pleitear ao premiê Gordon Brown a reabilitação de sua memória. Precavido, anuncia-se heterossexual. Observação que revela ainda nos dias de hoje a restrição ativa dos costumes cultuados de uma dada sociedade. Reconhecer seu incontestável valor é querer redimir-se indesculpavelmente pela preconceituosa prática que deu cabo à vida de um ser humano. Declina-se das desculpas. Que se crie um fundo para o Museu Nacional de Computação.

paulo costa

agosto/2009

paulo costa
Enviado por paulo costa em 01/09/2009
Código do texto: T1785966
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.