Desigualdade: o inimigo errado
Não se vence a desigualdade. Ela é fruto da heterogeneidade e da
dinamicidade inerentes às coisas e aos seres. O que se pode fazer é
combatê-la, numa luta eterna, a fim de impedir que alcance
proporções alarmantes. O tema sempre mobilizará pensadores, como
quando chegou a ser alvo de discussão entre Voltaire e Rousseau, por
conta da obra deste último intitulada Discurso sobre a Origem e os
Fundamentos da Desigualdade entre os Homens. E a desigualdade, per si, não é de todo ruim, se não atingir a saciedade das necessidades
básicas de todo ser humano: alimentação, saúde, educação,
moradia, segurança e lazer. Não afetando estes direitos, não se
configuraria em pobreza e apenas significaria uma característica da
multiplicidade e riqueza próprias de uma sociedade civilizada. Um
executivo possuidor de três celulares e uma pessoa que só tem um gera desigualdade, não significando, necessariamente, pobreza pra nenhum dos lados.
Tendo cada ser humano suas peculiaridades e diferenças históricas, socioeconômicas, culturais, geográficas, religiosas e afins, seria utópico esperar que do conjunto dessas pessoas resultasse uma sociedade uniforme e igualitária, com um tratamento homogêneo para todos seus cidadãos. O foco, portanto, seria no combate contínuo para que a desigualdade não resultasse na pobreza, esta sim, um mal que deve ser enfrentado na medida em que sua existência implica na perda dos direitos básicos e fundamentais já citados. Analogamente, seria como esvaziar, com copo ou balde, a água que insiste em entrar num barco, ameaçando afundá-lo; a água sendo a desigualdade, que molharia os bens (direitos), cujo copo ou balde (nossas medidas) tentariam fazer com que o barco (sociedade) não afundasse, gerando pobreza. Saúde e educação, como as bases de qualquer sociedade justa e avançada, seriam duas bacias enormes.