O português nosso de cada dia
A língua materna comporta, essencialmente, a cultura e o modo vivencial do povo que dela se utiliza. A maneira como este conjunto linguístico é transmitido também concentra uma série de peculiaridades que distinguem seus falantes dos demais. A Língua Portuguesa se revela em um reflexo desta constatação.
No âmbito escolar, agência socializadora em potencial, é detectada a difusão de conhecimentos linguísticos pautada na norma culta ou de prestígio, de suma importância nas relações de formalidade. Por outro lado, o ensino da língua portuguesa se vale tão somente desta variante e não prima pelos tantos outros falares e dialetos que povoam este país. O aluno é instruído única e exclusivamente para falar "correto", esquecendo-se que a língua é dinâmica e, quem sabe, até desvalorizando seu próprio modo de se comunicar.
Por esse viés, os ensinamentos da Língua Portuguesa não se vestem da realidade na qual o seu estudante está inserido. Como exemplo, o livro didático se mostra relevante. É rotineira a abordagem, nos livros, de situações e convívios que fogem, não raro, das experiências que o aluno traz consigo. Como um discente do sertão nordestino compreende um diálogo de dois adolescentes numa boate de São Paulo, retratado em um texto do seu livro? Universos divergentes, criticidade à parte.
Utilizar a língua pode não ser tão fácil como se parece. Para cada situação é exigido um nível diferente de linguagem. Talvez, um palestrante, em um congresso, não obtenha êxito ao discursar para a plateia usando gírias. Tão pouco um gari relatará sua rotina do dia à sua família em vocabulário rebuscado, esta residente em uma favela paulistana. Adequar fala à exigência é o primordial no sucesso da comunicação.
Em conclusão, o ensino da Língua Portuguesa deve, antes de tudo, estar de acordo com as necessidades presentes em cada situação comunicativa. Pode até ser formalista, mas sem deixar de ser social. Uma nação se faz soberana quando seu idioma integra e congrega todos na mesma união.