FUMAR OU NÃO FUMAR _EIS A QUESTÃO
Durante a realização de uma proposta de trabalho em um curso de pós-graduação foram oferecidos postais para serem comentados. Escolhi dois deles, ambos referentes à publicidade de cigarros. Duas fotografias em tamanho aproximado de 10x15.
Dalila é a marca de cigarros exposta nas fotos. Sim, Dalila, aquela que cortou os cabelos de Sansão enquanto ele dormia. As letras que aparecem nas figuras são do tipo bordado rebuscado, comuns em enxovais de noivas no século XX.
Em um desses cromos, levemente coloridos entre os tons cinza e o esverdeado, está anotado o nome Hermione e, no outro, Fleuron. Preciso descobrir alguma informação sobre o que querem dizer.
Duas figuras femininas de invejável forma física, foco de atenção dos trabalhos, aparecem vestidas em malha aderente, uma delas usando sapatilhas rosa seco e a outra se encontra descalça. As duas mulheres têm traços do ideal feminino romântico. São torneadas, cintura marcada, busto médio e firme como o das estátuas, cabelos anelados, belos e saudáveis, ornamentados com tiaras mimosas. Uma modelo segura pequeno ramalhete de flores. Outra mira-se em um espelho de mão. As duas moças têm faces levemente rosadas.
Provavelmente foram maquiadas para a pose com o antigo “rouge” (palavra francesa), hoje mais conhecido pelo termo inglês “blush”. Não importa mesmo a etimologia, mas o enrubescimento proporcionado pelo produto amado pelas “femmes” de quase todas as idades.
Os cenários sobre os quais posaram as lindas senhoritas é também notadamente romântico. Um deles expõe uma balaustrada (tipo o balcão de Julieta pendurar-se para ouvir Romeu) utilizada para a pose artística de toque boêmio e sensual. O segundo, mais leve, contém detalhes de uma coluna romana e o recorte de um arranjo de flores.
Pensando direitinho, se compararmos esses reclames publicitários sobre o cigarro com os veiculados atualmente, as nossas cabeças fervilharão em perguntas. Cada um pense o que quiser, mas o cigarro tem uma história relacionada ao prazer, à sensualidade e à boemia. Recebeu a decisiva influência hollywoodiana em filmes inesquecíveis que fizeram do cigarro símbolo de beleza e poder.
Muito tempo depois dessas divas dos cigarros Dalila, eis que a publicidade nos maços se faz a partir das tétricas figuras que expõem portadores dos males ocasionados pelo tabagismo. Uma pergunta que deixo aqui flutuando é: Por que ainda rolam na TV anúncios de bebidas alcoólicas envolvendo a Natureza e belas mulheres, mais que as dos cigarros Dalila?
Fumamos porque nos ensinaram. Agora se aplica a estranha pedagogia do milagre de desensinar o vício adquirido.