Rainhas da Margem do Rio - Descrição
Modelo de Descrição
Tema: Descrever as lavadeiras do Rio São Francisco.
Rainhas da Margem do Rio
Ao longe se ouve a orquestra das vozes trabalhadeiras e incansáveis daquelas mulheres.
A margem do rio é a indústria de seus sustentos; as pedras, suas bancadas de trabalho. Estas são como reinos, dos quais os tronos são passados de geração em geração. Sim, elas são rainhas, rainhas sem cetros e coroadas sem brilho, apenas com o mais puro branco de suas trouxas.
Os vestidos longos de barras molhadas se levantam para o trabalho e se arrastam como um manto quando elas passeiam coroadas pelos campos vizinhos de seus reinos. Seus pés descalços estão sempre prontos para o rio, e este sorri quando as recebe.
Ao alvorecer, seus dedos já estão enrugados pelo trabalho; seus corpos, maltratados pela labuta diária, não conhecem dia santo ou feriado; amontoam-se sobre as pedras, numa sincronia de movimentos que passam de bruscos a suaves, harmonicamente, revelando o cansaço da rotina diária, vinda junto com o cansaço do rio, que, ao chegar da tarde, corre mais lento e descansa sobre a margem.
As pequenas princesas se encantam com as coloridas bolhas de sabão que deslizam sobre as águas, sobre seus corpos. Aprendem desde já o ofício futuro; aprendem a reinar para serem entronadas quando for o momento. Quantas dessas rainhas ou princesas não gostariam de abdicar de seus tronos? Várias delas, mas a longínqua possibilidade de renúncia não faz com que esmoreçam: continuam a reinar em seus minúsculos reinos sem súditos.
Rogerio Bandeira