Infância

A saudade me persegue, deixa-me triste de repente e faz-me rir sozinha quando caminho pela rua. Ela me consome por dentro e me faz sentir tudo novamente, sinto o cheiro da terra molhada enquanto a rede balançava na varanda da fazenda da minha tia, quando eu saía correndo com medo das vacas ou quando me banhava no açude com as outras crianças e todos jogávamos futebol depois. O gosto do milho ainda sinto na boca, mas as pessoas não estão mais lá, e o lugar também não.

Sinto falta dos amigos na escola, das aulas chatas em que ignorávamos o resto da humanidade e conversávamos besteiras, das brincadeiras e das corridas. E também dos colegas da rua, da calçada em que todos corríamos juntos na mesma direção e da minha avó reclamando de toda aquela correria. Hoje, não reconheço os rostos que antes corriam ao meu lado e também não escuto mais a voz da minha avó.

E ainda lembro de quando a mamãe vinha me chamar para ir ao colégio e eu sempre inventava alguma coisa para ir ao colégio e eu sempre inventava alguma coisa para não ir à escola e ficar em casa, sentada na sala, assistindo a desenhos animados. Os programas de televisão eram muito melhores. Nunca um desenho atual poderá se comparar aos “ursinhos carinhosos, ao castelo rá-tim-bum ou ao cocoricó”. Uma vida que um dia foi minha e da qual só guardo as lembranças, que vão sendo esquecidas a cada instante que se passa.