Simples Assim
Era uma vez um país quase como qualquer outro. Um país daqueles em que as coisas são muito simples, inteiramente simplificadas e o que era mais esquisito, ninguém estranhava aquilo, eram todos simplesmente felizes. Tudo o que em outros países era detalhado, cheio de considerações e opiniões divergentes, naquele país era simples e pronto. Nele se desconsiderava tudo o que não era conveniente e restava só o que supostamente era importante sobre qualquer coisa ou assunto.
Houve uma vez que as pessoas desse país resolveram decidir, e isso era muito importante para elas, em qual de seus estados é que se fala o melhor português. Exatamente, naquele país simples falava-se português e como não haveria de ser de outra forma, lá a língua portuguesa era bastante, senão, completamente simples. As variedades da língua portuguesa eram peculiarmente determinadas apenas por variações regionais, o que facilitou imensamente a busca pelo lugar em que se fala o melhor português. Talvez, assim, em um lugar inteiramente simples e ingênuo fosse possível determinar em que região se fala um português melhor.
Infelizmente, esse país não é o Brasil e nenhum outro que exista nesse planeta. Afinal de contas, essa simplicidade ingênua não existe, ainda mais quando se trata de linguagem. Há muitos outros fatores, além de características geográficas, que se manifestam nas variedades lingüísticas e simplesmente desconsiderá-los seria uma grande ingenuidade, senão uma loucura. As variedades lingüísticas advêm de variações muito mais complexas do que diferenças regiões. As variedades são fruto da articulação de três tipos de variações extralingüísticas: geográficas, sociológicas e contextuais. Para que seja possível fazer qualquer tipo de consideração acerca das variedades de uma língua é necessário levar-se em conta as variações vinculadas a esses três parâmetros e não ater-se a apenas um deles. É uma ingenuidade ainda maior pensar que é possível dizer que há um português “melhor” ou “pior”. Todas as variedades são facetas da mesma língua e representam a riqueza cultural de um povo. Um país que desconsidera isso não é, de forma alguma, um país simples e sim um país simplório.