TEM A HISTÓRIA UM SENTIDO?

Tem a História um sentido?

Essa é uma pergunta que o Homem se coloca provavelmente desde que passou ter uma noção do tempo.

Talvez ainda não de modo explícito –nos primórdios das civilizações – mas de maneira muito clara desde que adquiriu a capacidade de filosofar.

Na verdade, as concepções da História em si, oscilam basicamente entre dois pólos opostos e subjacentes: a nostalgia do Paraíso Perdido, uma promessa de restauração deste Paraíso na terra, e o Medo Aterrador de um fim apocalíptico da marcha do homem sobre o planeta.

Este medo, que se reporta ao fato mesmo da existência e de saber que tudo tem um princípio, um apogeu e um fim, é paralelo, em termos coletivos, ao medo individual da morte. E, no fundo, a reação a este medo, oscila entre o fatalismo e a esperança, exatamente como ocorre com o indivíduo.

O homem contemporâneo, ao contrário dos clássicos e antigos, não se vê mais como objeto da História, mas como seu Agente. Através de suas opções, faz a História. Na verdade, numa visão mais dialética, ele é simultaneamente Agente e Sujeito da História. Com esta visão, tem o sentimento que é o Senhor do Destino, escapando, por esta via, à nostalgia e ao terror. Obviamente esta visão pressupõe que o Homem é livre.

Ora, sabemos que a liberdade é limitada pelo fator genético, pelo meio e até pelo momento histórico; e de outro lado, reconhecemos que poucos têm a liberdade para realmente influir no curso da História. No entanto, a idéia de que o Homem é simultaneamente Agente e Sujeito da História tem o mérito de incluir a sua responsabilidade no curso do processo histórico. Mas na verdade, os fundamentos de sua ação continuam os mesmos , tentando, de uma forma ou outra, ou estabelecer uma “sociedade perfeita” (transposição do Paraíso), ou fugir do fim catastrófico que tanto teme e que norteia as sua ações. O movimento ecológico é um bom exemplo: salvando a natureza, nos salvamos. E ao mesmo tempo, instalamos, à medida que se recompõe, o “Paraíso”.

O mesmo acontece com as utopias: o comunismo, por exemplo, que almeja a sociedade sem classes (donde fraterna e perfeita) e a democracia, que promete uma sociedade de homens livres.

As religiões, com suas promessas, não mudam objetivamente o que será, que é inexoravelmente conseqüência do que foi. Mas a Fé, sem dúvida, é talvez o único instrumento disponível para mitigar o medo que habita na alma do homem. Daí a sua força e sua persistência. Para os que têm fé, a sociedade dos crentes, alicerçada nos ideais religiosos e de solidariedade, que permeiam todas as religiões, seria o fim maior da História.

Talvez a História tenha um sentido, se considerarmos que a existência do homem na terra tem algum sentido. Pessoalmente, tenho dúvidas, quando olho as coisas por uma dada perspectiva; e me convenço que tudo tem um sentido, quando olho por outra.O meu lado mais terra a terra, é cético; mas o lado mais poeta, sonha...Mas estou convencido que nossa mente não tem a capacidade de discernir, na grande obra da criação, qual este sentido. Um grande filósofo dizia: em relação à Verdade somos como um gato numa biblioteca.

O Homem caminha para um abismo, necessariamente. Como todas as outras espécies. Talvez não seja o agente de sua destruição, com uma guerra nuclear, por exemplo, nem vítima de suas ambições; talvez consiga sobreviver, dada à sua tecnologia e conhecimentos, e principalmente à ampliação de seu campo de visão,às grandes transformações climáticas porque sempre passou o planeta, hoje aceleradas por sua ação devastadora sobre a natureza; mas não sobreviverá à própria caminhada do sol para a sua destruição.

Dirão: mas isto é para aqui alguns bilhões de anos. È verdade, mas muito antes disso, as mudanças de nossa estrela mãe terão destruído todas as formas de vida na terra. Neste mundo, de qualquer forma, o nada nos espera.Marte, somos nós, amanhã. E então não haverá mais História, porque não haverá mais ninguém para concebê-la, e muito menos, fazê-la.

Tudo isto faz parte de um grande Plano? Não temos como sabê-lo.

Se faz, a História nada mais é do que a elucidação, a posteriori, do Grande Plano. Se não há Plano, a História é uma ficção, no que diz respeito ao seu sentido.

Diria ainda que cada fase da História envolve uma interpretação da História. Em cada etapa da civilização o Homem tem uma visão de si mesmo. Quer dizer, em cada fase, a História tem um sentido diferente, porque o Homem se vê de um modo diferente. O que nos autoriza a pensar que o sentido da História varia no tempo, varia com a visão que Homem tem de si mesmo. Então, ainda deduzindo, podemos dizer que não sabemos se a História tem um sentido absoluto, que independeria de nossa capacidade de interpretá-la, mas podemos afirmar que tem um sentido relativo. Sentido que se modifica, mas que não evolui necessariamente, porque não podemos afirmar que somos melhores ou piores do que aqueles que nos precederam.

Joao Milva
Enviado por Joao Milva em 12/05/2009
Código do texto: T1590513
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