Abaixo a imprensa de espetáculo!
Por: Valdeck Almeida de Jesus
Jornalismo é uma atividade séria. O papel do repórter é mediar os fatos e a sociedade através da seleção, edição e publicidade das notícias, obedecendo a critérios éticos. Explorar a miséria e transformar a violência em espetáculo não é o papel da imprensa, como se faz em programas populares.
A mídia tem critérios para apuração e publicização dos fatos. Não se incluem, aí, a exposição de pessoas a situações vexatórias e humilhantes, nem a divulgação de cenas chocantes, de mortos ou acidentados. A miséria e a injustiça sociais devem ser combatidas pela imprensa através da contextualização das notícias e não da exploração sensacionalista, com o único intuito de alcançar pontos na audiência e vencer programas concorrentes. O valor deve ser outro, o social, e não o monetário, que é o que move disputas pelo IBOPE.
Ser objetivo no jornalismo é ser sucinto, claro, direto, sem subtefúrgios, sem ser prolixo e sem ser tendencioso. O que se assiste em programas ditos jornalísticos como “Se Liga Bocão”, “Que Venha o Povo” e “Na Mira”, nos canais de TV baianos é outra coisa. Nesses “espetáculos”, a notícia é o que menos importa. Antes, se explora a exposição desnecessária e anti-ética de cadáveres, pessoas feridas por acidentes ou crimes, cenas que são repetidas à exaustão, com fundo musical de filme de tragédia. Risadas e piadas gravadas também fazem parte da trilha sonora, transformando a dor e a miséria humanas em um show que nada tem de jornalístico.
A exposição grotesca parece não ter limites, pois os apresentadores se utilizam de teatralização, batem em mesa, esbravejam, gritam e fazem gesticulações que fazem cair por terra os mais comezinhos critérios de imparcialidade e ética profissional, aprendidos nos primeiros anos de faculdade. A credibilidade da notícia, que se consegue com o distanciamento que ajuda na construção da imagem de seriedade e de bom desempenho da imprensa, também cai por terra.
A liberdade de expressão existe para que cada um possa decidir o que dizer, quando e como se manifestar. Este direito foi conquistado com luta, mas volta e meia é ameaçado por atitudes de maus profissionais que desprezam o bom-senso e a responsabilidade do comunicador social. O direito de falar, de se expressar deve ser utilizado para promover políticas públicas, denunciar irregularidades dos gestores governamentais e para servir de elo entre as demandas populares e os governantes, bem como para fiscalizar o Estado.
Valdeck Almeida de Jesus é escritor, poeta e estudante de jornalismo, 4º semestre, da Faculdade Social da Bahia. Autor do livro “Memorial do Inferno: A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, já traduzido para o inglês. Seus trabalhos são divulgados no site www.galinhapulando.com