LÁ LONGE, BEM DISTANTE"
Vindo dos canaviais, descendo o barranco que separa a grota do caminho que o leva pra casa.
Casa simples de sapê, embrenhada no meio do mato, escondida da multidão.
Vem ele chegando em passo manso, suor caindo, braços cansados, poeira entranhada na pele, escurecida pelo sol ardente de todos os dias.
A tarde vem levando o sol, trazendo a noite com o céu guardando sob o seu olhar, as pegadas daquele que vai descansar ao chegar da lida.
Ao entrar em casa, um sorriso lhe espera, o latido do cão lhe acolhe,um abraço lhe conforta, uma mesa o espera.
Um banho gostoso, deixa a agua cair, tirar o suor, sumir com a poeira, roupa joagada lá no canto, a espera do outro dia.
No jantar, a conversa do dia, o contar das historias que ouviu na lida, risos se ouve, fala-se alto, misturam-se vozes, ele contando causos dos amigos do dia a dia, ela trazendo noticias que ouviu pelo radio durante o dia, enquanto cuidava dos porcos, das galinhas, e dos filhos que não dão sossego, mas que fazem a legria daquela casa perdida entre os canaviais.
Já é noite, as galinhas se amontoam em seus poleiros, as crianças começam a bocejar,pedem cheios de mimos, que querem dormir, são colocados por ele na cama pequenina que se aloja ao lado de uma um pouco maior.
E de repente o lampião se apaga, o casal se deita, descansa, espreguiça e se ama, pra mais um dia despertar, mais um dia labutar.
O despertar se faz ao som do galo cantando, avisando a hora de acordar, o dia nasceu, é hora de levantar.
Batata doce no fogão, almoço sendo colocado na marmita, meninos sendo acordados, ajeitados para irem a escola, e depois ajudar em casa, pois o trabalho não pode parar.
Gente marcada, gente esquecida, gente arranhado pela vida,
gente que ama lá longe, que se enbrenha, que não se escuta.
Ao som da viola que do radio sai, ao cantar do passarinho que amanhece junto ao dia, lá se vão meus amigos, companheiros, filhos do meu passado, artistas da minha terra.
Gente que me encanta, sem luxo, nem riqueza.
Gente que faz meu coração sorrir e chorar, e nunca esquecer de onde vim, e quem eu sou.
ra