Minhas regras
Ouso dizer que, nas mais inebriantes circunstâncias, gramática nenhuma faz diferença.
De que me valem tantas regras morfológicas se eu sobrevivo de neologismos e pleonasmos, seja para deixar meus desejos às claras, seja por sequer me importar em errar?
Me libertei faz tempo e foi da melhor liberdade que experimentei, dando um prazeiroso predicado ao sujeito que insiste em me tirar a sanidade.
Para quê próclises e ênclises se eu sou honestamente entendida quando peço ‘me beija’ ou ‘beija-me’?
É mesmo fundamental saber conjugar o verbo 'querer' em todos os tempos, se sou eu quem inventa o sentimento, e é na primeira pessoa do singular que declaro meus desejos mais íntimos?
Assim eu quero, anseio, almejo.
Crio início, meio e fim.
Hoje me entrego a toda a extensão do conceito de liberdade, desvinculando-me de todas as sintaxes preordenadas.
Afinal, o lado mais deleitoso da vida é melhor saboreado quando desregrado, e a delícia está em desaprender os passados, sejam eles perfeitos, mais-que-perfeitos, imperfeitos e, com isso, dar-me de presente o meu presente conjugado como melhor me aprouver.