Encontro com o passado

Parecia ser apenas um dia qualquer, mas em alguns momentos de nossa vida o passado retorna e é preciso enfrentá-lo, e chegou a minha vez. Estava no meu quarto arrumando as poucas coisas que ainda me pertenciam. Finalmente me mandaram para um asilo, afinal de contas ninguém queria um velho caduco. Quando estava terminando de recolher as roupas da última gaveta, o avistei.

Havia tanto tempo que ele estava guardado que eu até já havia esquecido. Segurei o velho caderno como se fosse um amigo que há muito não encontrava e, emocionado, embarquei em uma viagem pela minha memória. Em cada página, um poema que me desnudava tornando as lembranças cada vez mais vívidas.

No primeiro verso, lembrei o quão apaixonado e bobo era. Em alguns poemas, tenho que admitir que chegava a ser ridículo ser tão sonhador daquela forma, mas é melhor ter sonhos a que não ter nada. O meu primeiro beijo, as brigas, as dúvidas, os amores; todos meus sentimentos estavam ali registrados.

Nada se compara ao que senti relendo tudo o que escrevi durante minha adolescência. Por um segundo, eu me senti um adolescente novamente e percebi que eu não era um velho caduco, eu vivi intensamente, amei e odiei, caí e levantei, lutei e venci, como se isso já não bastasse, ainda fui forte para escrever em versos suaves e reler até o fim. Enfim, enfrentei o passado com a alegria no brilho dos olhos e a saudade pulsando no peito.