Rascunhos (para compartilhar; precisamos escrever para o outro, e não apenas um diário solitário...)
Estive em um encontro em que não falávamos de amor, apenas ríamos, havia solidariedade quando alguém se machucava no corpo ou na alma, trabalhávamos juntos, compartilhávamos e recitávamos poemas todo o dia. Muitos dos poemas eram amor, mesmo que não tratasem verbalmente de amor. Dias profundamente amorosos, delicados e fortes: nos escutávamos e nos víamos mutuamente, no desejo de romper as barreiras das aparências – em momentos assim a vida torna-se via de duas mãos, existimos eu e o outro. Aí, até parece a descrição que encontra-se no dicionário: “amar, verbo transitivo direto e pronominal”. Fazer pontes entre dois, duas, muitos...pro-nomes-pessoas. Ou pontes entre o humano e a natureza, na descoberta de que somos natureza, inda que natureza-humana. Amar é natural e, ao mesmo tempo é criar, cultivar - amar é arte - é correr riscos, é não saber se vivo ou morro. Amar, como viver - É. (Eliane Accioly)
A vida, esta preciosa e impagável rua de duas mãos, se amo o amor derramado pelo mundo me encontra, espalhando-se no mundo, quanto mais me dou mais recebo. Não a obrigação de dar para receber, acontece. Tão naturalmente como com as plantas cultivadas que, se tratadas, resplandecem. O carinho entre as pessoas, o se revelar enquanto o outro se revela, o ouvir e ser ouvida, ver e ser vista. O amor é epidêmico, se multiplica, contagia, como o riso.
O que é o amor, em época de tantas guerras, desencontros, misérias? O que é tratar a vida com única via, onde não existo e nem o outro? Aí, volto-me ao dicionário e encontro: “amar, verbo transitivo direto e pronominal”. Será que precisa um sujeito para amar, ou será que o amor existe, imanente, invisível, a espera para me apanhar, como ocorre às vezes? O amor romântico, o amor amigo. Ou será que amar pode também ser um jeito de viver e estar na vida? Um jeito amável, distante da indiferença, um jeito de ouvir e ver o outro, criando a vida como rua de duas mãos como outro jeito de viver, criando e cultivando as pontes-relações entre um eu e um outro.
Estive em um encontro em que não falávamos de amor, mas ríamos muito, havia solidariedade quando alguém se machucava no corpo ou na alma. Trabalhávamos juntos, recitávamos poemas todo o dia. Muitos desses poemas eram amor, mesmo que de amor não falassem. Foram dias profundamente amorosos, delicados e fortes: nos escutávamos e nos víamos mutuamente no querer romper as barreiras das aparências – em momentos assim a vida torna-se via de duas mãos, existimos eu e o outro. Aí até parece a descrição que encontra-se no dicionário: “amar, verbo transitivo direto e pronominal”. Fazer pontes entre dois, duas, muitos...pro-nomes-pessoas. Ou pontes entre o humano e a natureza, descobrindo que somos natureza, inda que natureza-humana. Amar é natural e, ao mesmo tempo criar, amar é arte.