O Primo Basílio (Crítica)

Uma das maiores obras do Realismo, criticada por Machado de Assis, e admirada por milhares de leitores fascinados por literatura em todo o mundo. Com características conservadoras e um cenário de ilusão e intriga, que traz chantagem e desespero, especialmente por se tratar duma estória realista portuguesa, a qual retrata a hipocrisia, ignorância e ociosidade do povo referente a época em que foi ilustrada (século XIX). Assim é O Primo Basílio, de Eça de Queiroz.

O filme exibiu uma dupla linguagem legitimista daquela temporada, totalmente voltada à oralidade como determina a norma culta, ou seja, não demonstrou assaz erros gramaticais, porém, por outro lado, existe a linguagem evoluída do século XXI, também ressaltada, por causa da pronúncia, e não apresentou, em momento algum, aspectos da linguagem coloquial.

No entanto, essa questão de elocução determinou o trágico fim de Luísa.

Como uma mulher frágil, de aparência pálida (já que as “senhoras” antigamente não se expunham diariamente ao sol), e com raciocínio lógico abaixo do normal, a menina sonhadora não revelou durante o filme (e acredita-se que nem mesmo no livro) uma capacidade extraordinária de se defender da própria amargura que sentia, uma vez que ela permitiu que a consternação a guiasse e a levasse ao lugar mais profundo, obscuro e inimaginável, isto é, ao abismo insondável onde a meiga e doce Luísa tropeçou, caiu, não conseguiu levantar-se jamais, e em meio ao seu leito de morte, nem com todos os carinhos e mimos do marido (mesmo quando descobriu a traição, ofereceu o perdão), não houve quem a erguesse da sepultura.

Entretanto, está claro que uma cidadã como Luísa não chegaria a ser bem-sucedida, e menos ainda haveria de ter a chance duma carreira de sucesso, se por acaso precisasse trabalhar, caso a situação financeira se tornasse precária para ela e Jorge. Isso porque estava enfraquecida pelo fato de os romances constantes esgotarem suas forças e a solidão abalou-a intensamente.

É inexplicável uma situação como essa, e a resposta depende do ponto de vista de cada ser humano, pois não está explicita no filme.

Contudo, que se pode dizer de Jorge?

Um homem trabalhador, inteligente, íntegro, que honrava a esposa, batalhava como um condenado para sustentá-la, tinha a sublime confiança de que ela nunca o trairia, mimava-a com caricias e elogios que talvez nem todos os homens oferecessem as mulheres, pois o dilema era: as esposas tinham de se sujeitar aos esposos, sendo então submissas como as flores e bonitas como eles queriam.

Além disso, sabe-se, como ficou exposto na tela, que a ingênua garota proseava com o incontestável companheiro com a rara liberdade que não se sobressaia no século passado. Nesse caso, é possível apontar mais uma característica dos dias atuais num filme que deveria exibir apenas as vertigens da obra.

Em todo caso, percebe-se que a “mocinha” não mostrou juízo em momento algum do filme, e apresentou imensa inocência quando avistou Basílio de longe. Provavelmente, a primeira coisa que surgiu em sua mente foi a eterna lembrança de aventuras e aventuras que viveu com o primo antes de se consagrar ao matrimonio. Essa se transformou na ocasião perfeita para Basílio contaminá-la com o primeiro golpe. Parecia que ele sabia que a singela Luísa cairia em seus braços como da vez quando ele a abandonara.

O incrível é que as situações encaixam-se direitinho. Primeiro Jorge viaja, e logo após Basílio aparece para uma conquista amorosa inesquecível, sem compromisso e inconseqüente. O destino planejou tudo para entregar as cartas do jogo prontas nas mãos de Luísa. Sinceramente, o escritor utilizou longo período e bastante talento para fixar cada detalhe de sua preciosa imaginação.

Enquanto o inesperado adultério romântico sucedia, a criada Juliana (principal responsável pelo conflito da trama), preparava as ciladas e as flechas para acertar a adúltera patroa que se divertia no ato sexual proibido, pois odiava os patrões e sempre procurava oportunidades, a fim de arruinar a sua senhora, que a tratava muito mal.

É certo afirmar que Juliana não sentia inveja de sua senhora, principalmente porque morava num “chiqueiro” imundo, se é que é possível referir-se a um aposento assim, e o que mais desejava era o privilégio de ter uma vida digna e decente que até aquela ocasião não contemplara.

Define-se Juliana como uma funcionária dedicada, reservada, de aparência vulgar, como o próprio enredo declara, porém no filme a atriz representante da personagem não aparentou gozar de falta de beleza como a citada anteriormente.

Não obstante, conforme o tempo corria, a empregada descobria vestígios da traição da patroa e começou a planejar a armadilha sem defeitos. Como a cobra que ataca com o veneno por causa de seu extinto selvagem, do mesmo extinto pertencia a criada, a qual possuía grande espírito de vingança que carregou durante toda a vida. Agora, ela já poderia descarregar a inteira fúria que guardava em seu interior.

Ainda assim, Luísa estava com os dias contados. Sua alma estava doente de arrependimento, mas o que queria era simplesmente voltar ao passado, em algum “túnel do tempo” se fosse preciso, para que nada daquilo ocorresse.

E Basílio, com a índole de fascínio que provoca as mulheres, não se importou em nenhum segundo com o futuro da amante, como enfrentaria o marido, de que modo resolveriam o problema para despistar a intrometida da empregada, e assim por diante.

Como homem sem caráter, moralidade e a falsidade estampada na testa, cegava as mulheres para que não enxergassem seus defeitos, de sorte que as seduzia até a alcova e depois de saciada a sede, cada uma que cobrisse a própria vergonha diante da sociedade.

De todo modo, como um assunto depende do outro, o que causou e ainda causará polêmica nos telespectadores são as cenas obscenas que impediram (e impedirão) muitos jovens que não atingiram a maioridade de assistir o filme, o qual é de extrema importância ao conhecimento dos estudantes, já que na verdade a maioria prefere o cinema ao livro.

Sem fugir do assunto, o fato de as cenas de sexo espantarem os telespectadores não é novidade ao cinema que está acostumado a produzir filmes nacionais como O Primo Basílio. O real problema, é que causou uma espécie de “chateação”, se é que se pode referir-se desta maneira, justamente equivalente ao erotismo e sensualidade que apresenta, e por conta disso talvez perca alto índice de audiência.

Uma dúvida não sai da cabeça: foi mesmo necessário exibir aquelas cenas da maneira como foram expostas? Será que esse detalhe não garantiria que este não passou de um filme contrário a moral?

É verdade que as cenas deveriam constar no filme por causa do enredo, mas a respeito da maneira como foram exibidas, não se acredita que foi preciso mostrar passo a passo os personagens violando a fidelidade conjugal. Por isso, certifica-se que por um lado o filme é obsceno e por outro uma famosíssima literatura de sucesso. Portanto, seja um caso de enxergar ou não as cenas, o que importa é que esta obra causou inveja a diversos escritores que só souberam criticar em vez de valorizar uma estória tão fascinante como esta...

(Crítica produzida através do filme “O Primo Basílio” (exibido no cinema em 2007), no segundo ano do Ensino Médio, a pedido da professora Alexandra, sem a utilização de textos de apoio).

Karina dos Anjos
Enviado por Karina dos Anjos em 08/02/2009
Código do texto: T1428072
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