Liberdade

Precisamos recuperar os sentidos. Abrir o espírito ao mundo.

Precisamos resgatar o aroma dos campos, a chuva no outono, o frescor húmido que floresce no inverno, precisamos para voltar desde o interior a recuperar os sentidos que foram nossos, a aprender a perceber com o tacto que nos é próprio.

- e soldados pai?

- os soldados sempre são como o fume terríveis.

Foi uma longa caminhada para voltar à terra dos ancestrais, uma muito longa caminhada para encontrar-se de novo nos olhos próprios da gente nossa.

Precisamos agora escutar os pais à noite. Acender a fogueira, através dela ver passar os sonhos. E ilhar-nos no lugar a adequado: ao sopé da fraga, a pé do rio de claras águas, na essência de fervenças que descem por rochedos altos, ou bem acima do vento do cume das montanhas, para obter a visão de novo e poder continuar guiando os passos do nosso sangue.

Precisamos ser escutados, precisamos abrir ouvidos à palavra.

- e as águias pai, voltaram de novo às águias?

- as águias hão de voltar, por que o domínio do cume lhe permite ver alem da nossa estreita mirada.

Precisamos, pois limpar dos nomes os falsos vocábulos, e arrumar a casa velha: deitar no lixo o pó da falsa saudade, a ferida aberta no coração para outros inferiorizar-nos, e enxugar a língua com água do nascente para que novo as verbas da alma brotem na escrita dos olhos que contemplam ao longe as rotas que o porvir, em nome da flora, da fauna, nos trazem.

- Então mãe, voltaram as borboletas de cores insinuantes?

- Hão voltar filho, quando o espírito dos homem reflita todas as cores com que se veste a humanidade. As borboletas têm as cores da nossa alma.

Temos demasiadas imagens que devem ser valeiradas e precisamos amar os filhos com a simples ternura com que a mãe terra abraça todas as criaturas selvagens, na sua imensa limpa, humilde diversidade.

Não desejemos as riquezas de outros, construíamos como antigamente as nossas riquezas no interior de cada casa. As janelas abertas no verão, quando o ar da noite é tenro e suave.

Sejamos luz nas noites de inverno.

Para aquecer o frio dos que vivem no desterro, para alegrar a aflição dos que por causa de dignidade padecem, para alumiar o caminho aqueles que vagam cegos, para insuflar esperança aos que liberdade perderam, para resgatar energias aqueles que no seu conforme adormecem. Para ti e para mim, para eles que são filhos... Do sol poente.

- e logo mãe, que acontecera a seguir?

- que voltaremos a ser gente. Filhos, netos da gente. E a gente da terra, e a terra, a nossos olhos, imensa.