O abalo da Fortaleza.*
A magnitude da Igreja Católica sofre fissuras. Não bastasse a eminente concorrência de outras ideologias religiosas, agora essa instituição enfrenta a “fúria” até dos seus mais fervorosos seguidores.
Os fiéis, antes tão conservadores quanto à própria igreja, vêm tomando fôlego para denunciar os chocantes casos de pedofilia praticados por padres em diversas partes do globo. Semelhantemente a outras discussões, essa teve origem na sociedade yanke, não só porque muitos dos pedófilos de batina denunciados praticaram os crimes nos Estados Unidos, mas também por esse ser um país no qual o catolicismo não está tão presente, o que possibilita uma abertura maior quanto à constatação de certos dogmas católicos por parte da opnião pública. Opnião pública esta que julga, dentre outros fatores causadores da crise, a intransparência da entidade. Para alguns o isolacionismo desvinculou o clero do mundo exterior e por isso permitiu que uma atmosfera de inquietações, favorável aos desvios de conduta dos sacerdotes, fosse formada.
Esses deslizes são evidentemente graves, entretanto é provável que não tomariam a proporção que atingiram se os precursores da crise não fossem quem são. É difícil para a entidade que sempre primou pela “moral e bons costumes” assumir que seus clérigos praticam ou praticaram ações repudiadas pela própria instituição.
Em razão disso, religiosos como Bernard Law tentaram encobrir os casos de abusos sexuais a crianças, praticados, por exemplo, pelo padre John Geoghan. A cada prática, John Geoghan era transferido de uma localidade para outra pelo cardeal de Boston ( EUA), Bernard Law. Além disso, o cardeal pagou indenizações consideráveis às vítimas para que os crimes não viessem à tona. Parece que isso em nada adiantou. A conivência do mais alto escalão clerical com os problemas em evidência é um, dentre outros fatores, que proporcionou a perda da credibilidade adquirida durante toda a existência da Igreja.
É válido salientar que a situação aludida se repete na maior parte dos países onde o catolicismo está presente. Tentando preservar a sua imagem, a “fortaleza” age de forma condenável ao insistir em protelar o debate em aberto, mantendo-o enclausurado.
* Redação elaborada para a disciplina Ensino da arte, da 3ª série do Ensino Médio, com base no texto “Sacerdotes do pecado” (Roberto Pompeu de Toledo, Veja, 27 de março de 2002) em 17 de maio de 2002.
** As opiniões e análises contidas nesse texto não necessariamente condizem com as atuais. (15 de janeiro de 2009).