Reflexão: música "Admirável Chip Novo"

Música:

Pane no sistema, alguém me desconfigurou

Aonde estão meus olhos de robô?

Eu não sabia, eu não tinha percebido

Eu sempre achei que era vivo

Parafuso e fluído em lugar de articulação

Até achava que aqui batia um coração

Nada é orgânico, é tudo programado

E eu achando que tinha me libertado

Mas lá vêm eles novamente, eu sei o que vão fazer:

Reinstalar o sistema

Pense, fale, compre, beba

Leia, vote, não se esqueça

Use, seja, ouça, diga

Tenha, more, gaste, viva

Não senhor, sim sinhô, não senhor, sim sinhô

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REFLEXÃO:

Nos dias atuais, vivemos em um mundo em que geralmente, o ter é mais valorizado que o ser. Infelizmente, na maioria das vezes, ao chegarmos a determinado local onde somos desconhecidos, as pessoas valorizam mais o que usamos (nossos sapatos, nossas roupas...) do que o que temos no interior (nosso modo de pensar, de ver o mundo...). Um dos responsáveis por isso, tem sido a mídia, que tem o poder de modificar o pensamento de muitas pessoas, transmitindo mensagens (verdadeiras ou falsas) sobre produtos, independentemente da sua qualidade. O escritor Ciro Marcondes Filho diz “as mercadorias trazem em si, incorporado, tudo aquilo que a sociedade deseja, e por isso são consumidas”.

Mas, podemos notar que geralmente, nenhuma dessas publicidades cumprem o prometido, isto é, nenhum carro traz vida luxuosos, nenhum cigarro traz aventuras, nenhuma cerveja traz mulheres, etc.

No passado a publicidade tinha a função de vender, comercializar e divulgar produtos. Hoje, em primeiro lugar ela vende, depois dita padrões físicos, estéticos e comportamentais e cria padrões de vida. Porém, além disso, ela serve para reforçar ou bater de cara, objetivamente ou subjetivamente com certas ideologias. Isso tem o lado bom e o lado ruim, dependendo da ideologia e da “opinião da publicidade”. Nota-se que, subjetivamente a publicidade introduz ou reforça conceitos como o preconceito racial, como, em propagandas de produtos de limpeza, o preconceito com a mulher, e outras ideologias.

Na música “Admirável Chip Novo”, a autora Pitty critica a mídia. Ela cita na música que a mídia nos deixa alienados ao perder nossos “olhos de robô”, ou seja, nosso poder de consumo excessivo, descontrolado.

Quando Pitty diz: “eu sempre achei que era vivo”, é como se nós não pudéssemos agir por nós mesmos, e sim pelo desejo de comprar, beber, usar, vestir, mas nunca nos damos conta disso e sempre achamos que somos “vivos”.

No refrão da música (pense, fale compre, beba...), ela está insinuando os textos imperativos usados pela mídia. São esses textos que convencem a muitas pessoas sem “bases de opinião”.

Pitty também diz que é tudo programado, ou seja, a mídia controla nossa vida (o que fazemos, comemos, bebemos, usamos, o nosso comportamento, desejos, sonhos, etc.).

A música coloca: “E eu achei que tinha me libertado”, quer dizer, nós tentamos nos limitar, nos controlar, mas a mídia nunca nos liberta, sempre vem novamente, sempre usando novos recursos, sorrateiramente nos obriga a consumir: “Mas lá vêm eles novamente, eu sei o que vão fazer: Reinstalar o sistema”

No trecho: “Sim senhor, não sinhô”, é como se ela dissesse que a mídia manipula toda a sociedade, e ela a obedece; seja a classe mais culta (sim senhor, não senhor), ou a menos culta (não sinhô, sim sinhô).

Japa Fonseca
Enviado por Japa Fonseca em 01/04/2006
Reeditado em 02/04/2006
Código do texto: T132037
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