Um ateu no futuro

No ano de 2020 uma guerra nuclear de enormes proporções dizimou quase toda a vida na terra.

Por mais incrível que pareça, um reduzido número de pessoas sobreviveu. De uma população que passava bem dos 6 bilhões de habitantes, ficaram apenas 28 pessoas, muito jovens, entre os 9 e 14 anos de idade.

Estando em locais distantes, falando línguas diferentes e com todas as dificuldades que se possa imaginar, conseguiram sobreviver, e foram lentamente repovoando a terra.

Encontravam algum destroço aqui e acolá, um pedaço de livro aqui e acolá, e iam aprendendo, reconstruindo. No início, o cenário parecia um filme de Mad Max, uma mistura de tecnologia avançada com pedaços de pau, corda e pedra, mas aos poucos foram aprendendo, se especializando e logo, em futuras gerações tinha escolas e etc.

Só um problema ocorreu: nenhum deles tinha sido bem doutrinado sobre quem é deus, qual seu nome etc. Uns lembravam vagamente de um tal de Ala, outros de Ieve, e havia até quem falasse de Odim! Mas a idéia de que devia haver uma força maior, uma inteligência superior continuava forte entre eles.

Por volta do ano de 2600, já haviam muitas cidades, povos falando diferentes línguas, e nem se lembravam bem de seus antepassados 600 anos atrás. Mas a religião já havia florescido. A maior de todas, com mais adeptos e mais antiga se chamava Bastianismo. Uma corrente poderosa, com muitos milhões de fiéis, e que tinha um grosso livro sagrado chamado Bukus.

Foi aí, nesse mundo, entre os fiéis da Bukus, seguidores de Bastião, que surgiu um sujeito chamao Adair. Desde cedo era um moço desconfiado, fazia coleção de ocorrências policiais de contos do vigário e golpes de estelionato.

Um belo dia, ele atinou para o fato, que o grande salvador Bastião, segundo as escrituras sagradas da Bukus era realmente a pessoa mais importante do mundo, especialmente em alguns trechos como:

Moa 11:01 “E ele viveu em São Paulo, no Brasil, até os 44 anos de idade”

Car: 16. “ E disse que não haveria mais crime, e todas as favelas do Rio de Janeiro sumiram”

Rod. 34;12 “Com um simples olhar, parou um furacão que chegava em Honduras”

Rod: 34;19 “ E o senhor obrigou todos os presidentes a serem honestos...”

Com isso, ficou tão impressionado com a repercussão que o Senhor Bastião tinha, que concluiu que ele não poderia ter vivido em São Paulo 44 anos fazendo tantas maravilhas sem despertar a atenção geral. Então, pensou: Meu Senhor Bastião é maravilhoso! Vou procurar os milhares de relatos sobre ele, as histórias, os poemas, as pinturas, as esculturas, as fotos, os filmes, as entrevistas, as colunas de jornal, os artigos e até as ofensas e críticas. E mostrarei para todo mundo como foi sua vida de 44 anos em São Paulo no século XXI.

Sem querer ele fundou a primeira sociedade de arqueólogos, a qual já desdobrou em especialistas, como os Mineirólogos, Cariocólogos, Gauchologistas e principalmente os SaoPaulólogos.

Já fazem mais de 50 anos, que ele e todos os outros arqueólogos fazem escavações. Encontraram muitos exemplares de revistas, Veja, Globo Rural, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo, Livros de Paulo Coelho, Contigo, Amiga, Palyboy, Casa & Jardim, Milhares de Poemas, esculturas, quadros, fotografias, notícias e críticas. Além bilhões de horas de filmagens.

Surpreendentemente, nenhuma palavra sobre o Senhor Bastião. Nem a favor nem contra. É como se o Senhor Bastião só existisse nas escrituras da Bukus.

Na verdade, depois de muita procura, a imprensa divulgou que haviam encontrado uma fonte sim, um tal de Flavinho José, que citou o Senhor Bastião por duas vezes, em duas linhas. Mas os descrentes como sempre, disseram que era falsificação e interpolação.

Para piorar, acharam uma tal de bíblia, com histórias muito parecidas com as da Bukus, aí disseram que os escritores da Bukus, não estavam inspirados por Bastião, que eram apenas plagiadores de mitos antigos, mitologia, folclore pagão.

Assim, nasceu o primeiro cético da mais nova era.

Gaby Fada
Enviado por Gaby Fada em 14/11/2008
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