Coisas que toda a mulher deveria saber antes de iniciar um regime
Segunda-feira de manhã é sempre um inferno. Acabou o fim de semana, com seu soninho gostoso, a prosa mansa em família, a roda de mate onde se discute os fatos da semana que passou ou a pilha de filmes que a gente sempre aluga. É hora de encarar duas coisas...A labuta e a maldita balança, que toda sexta-feira expulso da minha vida, sem hesitar.
Convém explicar o motivo pelo qual odeio a balança quase tanto quanto gente preconceituosa e burra.
Eu estive doente durante três longos anos. Primeiro veio a febre reumática, que me aflige desde meus dezessete anos, dar as caras de modo violento... Somada a um problema de tireóide (leeenta, a desgraçada!)... E, não contente, arranjei um coração partido, que fez os outros dois problemas se agravarem, exponencialmente. Resumindo? Nessa novela toda, somando depressão e inatividade, resultou em vários quilinhos a mais...
Uns meses atrás, fui fazer um check-up. Eu estava no limite. Tinha perdido a agilidade. Minha moral estava lá no pé.
Primeiro, fui ver o meu reumatologista, que é um amor de pessoa, que me disse que eu podia caminhar e fazer exercícios isométricos, como yoga, ou qualquer outro de baixo impacto, além de diminuir o monte de remédios que eu tomava de uma tonelada pra apenas meia. Comecei a ver uma luz no fim do túnel, sabe? Afinal, ia parar de sentir dor e retomar minha vida quase como era antes... Mas a nutricionista que me indicaram... Aquela passou das medidas mesmo sendo mais magra que a Twiggy em seus áureos tempos.
Na primeira consulta com a vareta pernóstica, tive vontade de largar pra ela “minha filha, tem maneiras menos dolorosas de morrer, sabia?” Pra ser sincera, queria forçar aquela seca mal amada a comer, pra ver se os neurônios dela, provavelmente atrofiados devido ao baixo consumo de proteína, gordura e, enfim, comida pura e simples, pudessem pensar e entendessem o que acontece com algumas pessoas quando em profunda depressão e tomando tanto remédio pra dor que tudo quanto é canto do seu corpo, incha!! Mas, como sou muito educada, me contentei em pegar a requisição dos exames que ela pediu e fui faze-los, embora estivesse doida pra perguntar se ela tinha se formado em nutrição em Auchwitz ou Treblinka. Mas deixa assim.
Dias depois, chegaram os resultados do check-up...E apesar de alquebrado e inchado, depois de três anos de dor constante (e muito antiinflamatório, remédio pra dor e sei lá mais o quê, que fizeram tanto ou mais estrago que conserto!), meu corpo finalmente estava respondendo ao tratamento. O sangue, que os vampiros do laboratório tinham me tirado, somado aos demais exames, mostrava que o pior estava acabando...Era hora de recomeçar.
Com o resultado dos exames na mão, fui ver a nazista, digo, nutricionista. A perua me olhou de alto a baixo, com cara de nojo, me pesou e, com cara de satisfeita, começou a falar em uma dieta doida, com direito a “remédios pra emagrecer”. Pelo amor de Deus!! Eu já tinha tomado remédio pra uma vida inteira devido a uma doença de verdade, e aquela doida queria me entupir de porcaria sem razão?!?? Eu tinha vontade de socar as fuças daquela seca oxigenada, bater naquela mulher mal amada até ela calar a boca!!! Na opinião dela, eu tinha que alcançar um peso que já tive um dia, mas nunca mais pretendo alcançar... E foi nessa hora que ofendi a perua.
Simplesmente caí na gargalhada. Falei pra ela que não ia agredir meu corpo com anorexígenos ou coisa do tipo. Sem falar que, se eu chegasse no peso que ela indicou, sabia o quanto ia ficar medonha. Conheço meu corpo, sua ossatura, como ele se comporta... E aí vem uma estranha, uma insegura que enche a cara de boleta pra ficar magrela, querendo me transformar num traveco? Pedi licença, juntei os exames e fui embora. A nazista da nutricionista não entendeu nada... E eu nem perdi meu tempo explicando. Ela que aprenda a usar o Tico e o Teco pra pensar ou vá prescrever aquelas porcarias pra outra, que não tem personalidade e quer virar esqueleto.
Eu tenho trinta e um anos de idade. Conheço cada manequim que meu corpo já vestiu...E em qual ele fica lindo. Eu fico bem num limite que muita mulher não trilha...Afinal, se eu perco muito peso, viro uma “Belém-Brasília” e isso... Na boa, sinto muito, mas não quero passar. Não de novo. Não preciso disso.
Perdoem-me as secas, as inseguras, as escravas da moda, as que resolveram seguir por vontade própria um padrão feito por quem odeia o corpo feminino...Mas eu não quero ser como vocês! Prefiro mil vezes ser meio gordinha, mas ter peito, coxa, bunda e saúde a transbordar.
Eu quero é assumir meus ombros largos, minhas ancas fartas, a cintura de pilão e o senhor peitão que Deus me deu, sem neuras. Não me incomodo em usar roupa G, mas fico doida quando me perguntam porque! Eu não quero usar PP, droga! Não quero ficar doente, não quero morrer só porque alguém decidiu,um dia, que ser seca é a moda! Existem milhares de mulheres como eu, que encaram um regime por questões mais de saúde que estéticas, mas que se gostam... E eu sei que a torcida agradece! Pra quem não entendeu: estou falando de homens de verdade. De pessoas bem resolvidas. De gente esclarecida, que sabe que quem gosta de osso é cachorro – se bem que, por experiência profissional, sei que até os cachorros preferem um osso que tenha uma boa carninha por cima dele.
Mesmo assim, por razões pessoais, resolvi fazer o regime. Não era por causa da pressão social, mas por opção minha. Eu queria recuperar minha agilidade e leveza. Gosto de ser cheinha, não obesa...Embora não tenha nada contra quem assume a obesidade e manda o resto as favas. Mas eu gosto de usar roupa justa, coisa que não fica bem com a “Samantha” (essa manta de banha) e a "Taix" ( Tá ix-plodindo nas roupas) saltando pra tudo quanto é lado. Deus me livre por uma calça mais justa e ficar parecendo um panetone ou uma colomba pascal, apertada embaixo e com as graxas saltando pra cima. Além de ficar feio, corta a circulação e dá um desconforto daqueles. Mas, como já observei nas ruas, tem gosto pra tudo. Vai ver que a nutricionista nazista estava certa e a chata sou eu. Vai saber. Ou sou eu a errada em usar o que me cai bem, ao invés de parecer uma macaca da moda? Se eu pudesse, hoje, diria umas boas verdades a alguns (as) jornalistas que trabalham com moda. Afinal, são eles que divulgam e perpetuam uma estética doente, que enche adolescentes de complexos, criando assim, uma nova safra de mulheres infelizes com seus corpos. Essa estética da fome afeta até mesmo mulheres inteligentes que, só por causa de algum babaca que não vê a beleza de suas curvas, ou de uma sequinha irritante que não pode ter uma diarréia sem ter perda de massa cefálica, confessam que prefeririam ser magrinhas e burras a inteligentes e curvilíneas. E isso é triste.
Mas, voltando ao assunto, comecei o regime. Passei a encarar um café espartano, um almoço regrado (ainda bem que eu gosto de salada, pois parece às vezes que meu prato foi invadido pelo mato) e um jantar de monge fazendo voto de pobreza. Tudo certo, controlado...Até a chegada da TPM, claro. Afinal, TPM é aliviada, principalmente por três fatores – chocolate, choro e passar do tempo. Tem um quarto fator que eu não citei, mas, como tem criança na sala enquanto escrevo, nem vou falar nisso...Mas vocês devem ter entendido que eu tô falando “daquilo”.
Bueno...Passado um tempinho desse regime, que me foi dado por um novo nutricionista, que compreendeu porque eu não queria tomar remédio e concordou que eu não ficaria bem magra demais, comecei a ver os resultados.
A corpo desinchando, a agilidade voltando, a minha saúde se recuperando... Mesmo com alguns deslizes. Sou humana, gente! Não nego fogo diante de uma torta maravilhosa só porque estou de regime. Só que, ao invés de um pedação, como só um pedacinho pra passar a vontade e deu. Não fico me martirizando e enchendo o saco dos outros por isso. É só caminhar mais e comer um pouquinho menos durante o resto da semana e deu. Sem neuras!
E enquanto eu sigo essa longa jornada pra melhorar minha saúde, me desfazendo de quilos que não preciso mais, me dou conta de que toda mulher tem que se conhecer e bem, antes de se jogar nessa fogueira.
A gente tem que conhecer nosso corpo. Ama-lo, não deixa-lo louco, tentando fazer dele algo que nunca vai ser. Menos de dez por cento da população mundial tem uma vida saudável sendo seco em vida... E eu não pretendo fazer parte dos noventa por cento que perdem a paz, a alegria de viver e a saúde por uma coisa tão insignificante quanto usar uma calça skinny. Não me mataria por tão pouco!
Pra quem não entendeu, eu digo “matar” porque é impossível pra uma mulher com determinado tipo de ossatura e compleição física passar do manequim G pro PP, mesmo que todas as revistas nas bancas digam isso!! A resposta, porém, não é relaxar e engordar feito doida. Temos que respeitar nossos corpos. Nem oito, nem oitenta. Nada da dobradinha bulimia-anorexia, nem virar uma draga. Também não faço apologia a banha, caso as Olívias Palito que estejam lendo isto se irritem. Só estou falando em auto-respeito e auto-aceitação... De se cuidar com carinho, não pra morrer devagarinho, só pra entrar numa roupa da moda.
Eu tenho consciência de que agora atraio mais olhares, mas não pretendo ficar seca em vida. Amo ser uma mulher cheia de curvas e não quero faze-las desaparecer...Só pretendo, aos poucos, lapida-las. Sem neurose, sem perder o meu bom humor e o mais importante: sem perder a minha saúde, que foi tão difícil de reconquistar.
E pra quem ficou curioso lá no título, é isso que toda mulher deve saber antes de começar um regime: tem que saber que o corpo tem limites e merece respeito! Que a gente não deve se matar de fome, nem perder a alegria de viver se nasceu pra ser G e sabe que nunca vai chegar a PP. Que a primeira pessoa que devemos amar, somos nós mesmas... E se conseguirmos isso... É metade do caminho pra tudo dar certo.
P.S.: Ah, e antes que eu me esqueça – caso algum homem tenha lido este texto e não concorde, lamento por ele. Vai acabar (se já não está) namorando um cabide de roupa e, um belo dia, vai ver todo seu bom humor ir por água abaixo por causa de algum escândalo devido a molho cheddar numa salada, porque deu uma caixa de bombom pra ela ou algo assim. E, se você acha que não vai acontecer, conte os dias... Quando você menos esperar, sua mulher cabide vai surtar.
(Em homenagem a todas a mulheres bem resolvidas e de bem com seus corpos, sem importar o tamanho do manequim...E a uma grande amiga que, infelizmente perdeu a batalha e veio a falecer, recentemente, devido a anorexia, desenvolvida pelo fato dela tentar se adequar aos esqueléticos padrões da indústria da moda. Voa com os anjos, querida...E fica em paz.)