QUEM É TEREZILDA?... (II)
QUEM É TEREZILDA?... (II)
A manhã se apresentava embaçada e fria, apesar do sol lá no alto querer romper aquela teia de velames cinzentos, que abstratamente desenhavam figuras, enigmas naquele nevoeiro. Com um pouco de imaginação veríamos um pirata de nossa infância à conduzir da vigília do seu galeão misteriosa viagem.
Foi nesse sábado – encontrei seus papéis com a cara no chão, alguns com a cara para cima, estavam espalhados pela calçada em desalinho total.
- A Terezilda também se ausentara.
Verifico que foram maldosamente removidos da sua tribuna. Digo isso, porque noto os dois buraquinhos feitos pelo graveto trespassado. Seu humor devia estar turbulento, confuso, vindo do inconsciente mundo que carrega dentro de si, numa mistura de arrazoados que não consegui entender.
Leia:
“EU JAMAIS IRIA PARA CAMA COM CHILENOS BAIANOS PEDREIROS FAXINEIROS PORTEIROS ZELADOR SEGURANSAS. NUNCA JAMAIS! SOU PRECONCEITUOSA E RACISTA”
Esse desafogo que anuncia é antes de tudo o imbricamento de sua vivência através da linha do tempo, de olhar astigmático, cansado de ver pelas ruas da vida o comprido preconceito que se espalha entre as pessoas. Integrante dessa ordem, repete as experiências cozidas no caldo da intolerância, e, rubrica, distingue, classifica quem não participa, para depois afirmar-se racista.
Talvez, - mera suposição minha – por morar na rua, neste canto hoje, sob a marquise amanhã, seja abordada no aristocrático bairro por serviçais rançosos que despidos de compaixão a enxotam de suas paragens, porque esteticamente enfeia o ambiente, desqualifica-o, para desagrado e mal-estar de seus empoados patrões.
Numa atitude de desforra, discrimina também seus iguais mais próximos, empatando a peleja numa resposta panfletária.
Paradoxal e recíproca a atitude prolatada diante da alquimia intrínseca e complexa, imanente do ser humano que apesar dos milênios passados continua um eterno aprendiz na arte de conviver.
Era o que tinha para dizer.
Quem sabe no próximo sábado!
Paulo Costa
outº/2008