Rouge
Trepa-me a boca para que os dias sejam mais breves…
Os candeeiros de verdete suspirando sobre a cidade enquanto esfaqueio tulipas, ordenando o regresso da tua voz. Julgava que tinhas esquecido a arte sobre os meus tornozelos, mas os cadernos permanecem brancos e cortantes. O silêncio prende lantejoulas aos vértices das varandas e a máquina de aço desenha vultos nos meus lábios. Sopro tecidos estampados e a multidão desfaz-se no arame da aragem.
Ontem, o tempo demorou-se mais nas veias… Regressas-te com os longos olhos submersos na camisa de riscas verticais. Retirei a inocência dos teus bolsos com a espátula que afio as nascentes e deixei a tristeza presa na tua face. Deixo as ondas magoarem-te e as farpas retocarem de escarlate os teus poros.
Desfiz as tranças sobre os solstícios e os meus cabelos voaram sobre a essência rouge das horas. O meu baloiço desenterra arrepios e os prédios são altos, mas não alcançam as manhãs… Sublinho azulejos e verto os dedos sobre as últimas sombras. Gostava de hipnotizar elevadores e rasgar as portas com silvas para que permanecesse no meu apartamento a radioactividade dos teus beijos.
Cláudia Borges