Importante e/ou prioridade – depende
(Esse texto venceu o concurso literário promovido pela Academia Brasileira de Letras em parceira com a Folha Dirigida e a Unesco em 2006, cujo tema era "Educação: Importante ou Prioritária?".)
João, Maria, Alberto, Pedro, Thiago, Cris, Daniel. Diversos nomes, diversos níveis sócio-econômicos, diversos tipos de acesso à educação.
João é engenheiro, formou-se há pouco tempo em uma excelente faculdade. “Eu acho importante estudar, ser alguém na vida”, dizia ele orgulhoso. Trabalha em uma empresa de construção civil.
Maria faz pedagogia, trabalha integral, estuda à noite. Os pais ajudam. “Eu ainda tenho muito chão pela frente, mas quero ser alguém, fazer diferença e trabalhar na minha área. Eu penso que é muito importante estudar”.
Alberto está entrando no ensino médio agora. É estudante da rede pública, tem um sonho, ser advogado. “Não sei se consigo, sabe como é né, a gente não tem muita chance, é difícil entrá na faculdade pública, precisa estudá muito né, vamo vê se eu consigo. Sei lá, tipo, ser alguém na vida né, tipo não sei. Acho legal estudar e tudo mais, mas num sei se vou consegui”.
Pedro trabalha no farol, deveria estar na 4ª ou quinta série. “Ah tio, cê sabe como é, meus irmão passam fome, preciso trabalhá pra ajudá em casa. Estudá? Ih, tio, tive que largá a escola pra podê dá de comê pros meus três irmão menor, aliás, quer uma balinha aí?”.
Thiago, Cris e Daniel são três irmãos. Estudam na rede particular. Thiago quer fazer economia, Cris quer ser psicóloga e Daniel quer ser médico. Os três estão no ensino médio também, e já fazem cursinho. “Olha eu pretendo ser economista”, diz Thiago, “porque acho importante ser alguém, né”. “Ah eu sempre gostei de lidar com pessoas, quero fazer Psicologia pra ser uma boa profissional, também acho super importante estudar”. “Sempre tive uma queda por medicina, agora que tá chegando a hora de escolher, resolvi tentar medicina, já to me preparando bem”.
Sete destinos diferentes, sete vidas que se cruzam nessa questão: futuro, educação e “quero ser alguém”. Uns podem, outros não. Será que a educação não é importante e prioridade? Para alguns até pode ser importante, precisa ver se terão chance de torná-la prioridade.