Um certo gosto de sangue

É lamentável a maneira pela qual a esmagadora maioria da imprensa brasileira conduziu o "caso Isabella Nardoni". Um acontecimento já "enterrado" e esquecido mas, após 5 meses, quando a poeira se abaixa é que vale jogar os fatos "pela janela" e compreender o que houve.

Pode-se notar deste acontecimento que chocou o pais e o mundo (não estou exagerando, o caso Isabella foi parar em jornais internacionais!) duas monstruosidades: os responsáveis pela barbárie e o trabalho da mídia em cima do assunto. Numa busca incessante por pontos de ibope e por vendas de exemplares, os noticiários e as revistas divulgaram, a todo instante, a morte de Isabella.

A morte da menina de apenas 6 anos ficou na boca do povo por semanas. Era o assunto da vez. Em igrejas, escolas, supermercados e botecos se discutiam os culpados, o papel da polícia, o comportamento dos pais. É como se milhões de brasileiros comentassem sobre um parente em comum. Todos sabiam quem era e o que tinha acontecido com Isabella Nardoni.

Agora pergunto-lhes: Por que tudo isso? Eu mesmo respondo: Porque o brasileiro gosta de sangue, gosta de mexer na ferida, de escancarar a dor, de divulgar o mais sombrio lado dos homens. Vivemos em um país em que a sociedade, alienada pela morbidez da impressa, julga antes mesmo do Poder Judiciário, em uma nação em que os seus nem sabe o porquê, mas compram e vendem o sofrimento alheio. Essa hematofilia (atração por sangue) do nosso povo explica o motivo pelo qual a Isabella foi capa, matéria principal e contra-capa de todas as revistas circulantes no Brasil durante seis semanas.

A raiz do problema não se encontra nos meios de comunicação, mas numa sociedade acomodada com atrocidades, conformada com a violência, acostumada com a barbárie, com a maldade humana e, principalmente, telespectadora de “casos Isabella”, “casos João Hélio”, “casos Suzana Richthofen”.

A propósito, qual a próxima vítima que levantará, novamente, essa discussão infindável?

Aguardem! Nesse mesmo canal, nesse mesmo horário....