Sobre-humano ou semideus?

Prólogo:

Nas mitologias grega e romana, os semideuses eram filhos de deuses com parceiros mortais. Eles normalmente se destacavam por serem mais fortes e mais inteligentes que os humanos normais.

Recebi um “e-mail” deveras curioso e para mim funcionou como uma gratificante massagem no meu ego. Uma espontânea leitora, talvez em demasia emocionada, escreveu as seguintes palavras:

“Quando li o texto: ‘A despedida que eu não queria’ publicado no Recanto das Letras em 18/07/2008, chorei com dó de mim mesma. Passei, recentemente, por uma situação idêntica e suas palavras foram, para mim, um lenitivo que enalteceu a auto-estima. Claro que: ‘todo coração dói numa despedida’ e você deixa isso muito claro quando cita um trecho de Sueli do Espírito Santo.

O que me motivou a lhe escrever foi o seu período (escreveu de modo divino e achei lindo) que peço licença para transcrever:

“Nessa despedida que eu não queria cantemos e dancemos sob a égide discreta da música divina, dos sons mágicos dos desejos ocultos, numa osmose de beijos tais quais clarões ou lampejos de loucura, numa desabrida petulância e desenvoltura sensual.”

Você é sobre-humano ou um semideus? Por que não o descobri antes no Recanto das Letras? Magistralmente você dá a resposta no seu mais novo texto intitulado ‘Ensinamentos’. Nele você nos ensina a não nos lamentarmos pelas desventuras e que o tempo não pára.

Na despedida que você não queria conseguiu convidar a pessoa que estava lhe abandonando para cantar e dançar com música divina. Quer comportamento mais sobre-humano do que esse? É possível sofrer e se mostrar feliz ao mesmo tempo? Isso não é ser sobre-humano?

Você conseguiu passar a idéia de que é possível até se beijarem (você e a querida que se despedia) e fazerem loucuras entre clarões de desenvolturas sensuais (nossa! Quanto amor e devoção).

Tudo isso antes de uma sofrida despedida? Para arrematar sugere a necessária discrição. Você é demais! Parabéns pelos belos textos que escreve. Acho que isso é ser sobre-humano ou semideus com as palavras. Ass. Sandra".

Fico satisfeito com tão sobressaído elogio. Respondi a mensagem da simpática leitora e mais uma vez explico que em verdade sou apenas um visionário apaixonado. Todo escritor possui uma musa real ou imaginária. Não sou exceção. Sou humano. Não sou divino.

No texto ‘Ganhar e Vencer’ faço mais uma vez referência a especial menina-mulher que, por ora, ou melhor dizendo, enquanto ela quiser, será minha fada enaltecedora dos mais sublimes e tresloucados devaneios.

Sobre-humano ou semideus? Não. Nem uma coisa nem outra. Sou apenas um aficionado pela didática epistolar. No que escrevo, nas entrelinhas, há uma verdadeira avalancha de impropriedades familiares, sociais e religiosas. Contudo, jamais poderá ser encontrada má-fé urdida ou temperada com a maledicência desnecessária, hipocrisia que não se mostra.

Em verdade creio haver excesso de proselitismo no sentido de compreender meus escritos. Complexos são meus textos, não pela etimologia das palavras, mas pelos diversos sentidos contextuais assumidos e de acordo com as interpretações e estado emocional dos leitores. Se quiserem, os textos que escrevo têm uma carga erótica. É evidente que de modo subliminar busco enaltecer os anseios de todos.

Por ora não me apetece desistir da literatura ficcional, de escrever devaneios carregados de convicções pessoais e contornos não bem definidos para alguns poucos que me lêem. Quero, entretanto, enfatizar que busco tratar de interesse coletivo e não apenas de um determinado grupo de leitores, estudantes e/ou aficionados.

Os leitores, de níveis culturais diversos, apreciam meus escritos porque quase todos suscitam polêmicas, erotismo, paixão, amor, dúvidas, compaixão e autocomiseração. Gosto de estudar escrevendo porque, como a vida, o aprendizado é uma luta sem-fim que não ocupa espaço, cujo resultado obedece sempre à influência mesológica.

Esqueçam, portanto, o sobre-humano ou semideus e leiam-me como um simplório autodidata, incipiente aprendiz, visionário, apaixonado. Impudente, às vezes, sou tão mortal, comuníssimo, como quaisquer dos meus insignes e necessários leitores.