suspiro, o último corpo

Hei-de correr até te soltares dos tecidos dos meus lábios e depois lançar-te ao vento como as ondas… Trazes-me presa a ti por palavras que não conheço e quanto mais te odeio mais te cravas dentro de mim. Amor, as horas passam cercando o teu corpo e este olhar tão viciado em ti, desejo que adormeça profundamente. Não sei se são ramagens, se azulejos baços o frio que trazes nas mãos.

Não te quero amor! Ensina-me a esquecer-te. Corro, fujo, deslizo nas falésias, mas ensina-me a esquecer-te! Curvo os pés e as sílabas têm o teu sabor, o marfim da tua pele. Pendurados atrás das ondas os nossos beijos refugiam-se e tu passas mergulhado na voz dos outros, passas e não tocas nas minhas lágrimas, não sentes o silêncio dos telhados. Feres-me com uma agressividade que só eu percebo e que me desorienta, com uma raiva que nunca soube ler nos teus gestos. Já desejei a morte, já desejei fugir e fechar-me na sinfonia dos meus cabelos. Se o sangue correr inundando as tábuas e as lantejoulas do meu vestido a culpa é tua…

Os meus risos são tão frágeis, encosto a face sobre a janela e atiro a tua imagem sobre as nuvens. Eu sei que não me mereces e que só te relembro porque ainda sinto os teus braços abraçarem-me sobre as violetas. Talvez um dia amor te possa responder sem sentir os poros chamarem-te e tempestades romperem a minha pele. Então, quando este desespero se acalmar, vou sentir de novo a imensidão e agasalhar-me bem sobre as cortinas para nunca mais amar. ´

Deixa-me amor nestes pátios largos que eu hei-de soprar-te até me habituar à tua ausência.

Cláudia Borges

Cláudia Borges
Enviado por Cláudia Borges em 27/08/2008
Reeditado em 27/08/2008
Código do texto: T1148521