Vozes contidas

Rostos anônimos invadem a noite e preenchem os muros de proprietários desconhecidos. Pensamentos. Denúncias. Arte. Aventura. Vários são os motivos que fazem pichadores os jovens excluídos. Talvez esta seja a única forma que estes rostos encontraram para manifestar as suas amarguras, ou uma forte inclinação pela aventura, que traz consigo altas doses de adrenalina.

Com um vocabulário, para muitos incerto, os pichadores esvaziam suas mentes. O perigo da situação não os impede de desafiar a censura. Manifestam seus sentimentos, contidos por culpa de uma sociedade alheia aos problemas da ala mais carente da população. É a voz rouca das ruas tentando ser ouvida, notada e compreendida.

Porém, da mesma forma que os pichadores possuem direito à livre expressão, os proprietários das residências, que servem de palco para esta arte, também têm assegurado o direito de exigir a limpeza da cidade em que vivem.

A reclamação dos proprietários chega à prefeitura. Ela, cumprindo o seu dever, apaga os pensamentos que por um instante tiveram a oportunidade de apresentar-se ao público, com toda a carga de insegurança, medo e insatisfação. As vozes voltam a calar-se. O manifesto individual é ignorado. Uma gama de idéias é contida, para novamente apresentar-se em um novo muro. O ciclo prossegue, até que um desses jovens seja preso e duramente reprimido.

Punir de forma violenta aqueles que desejam ser ouvidos não soluciona o impasse. É uma forma injusta e preconceituosa de tentar resolver o problema. Se os jovens querem ser notados, que seja dada a eles uma nova opção para que tornem públicos seus protestos. Caso contrário, só estaremos condenando mentes questionadoras a seguirem o caminho tortuoso da ilegalidade.

Kamilla Pinheiro Garcia
Enviado por Kamilla Pinheiro Garcia em 17/08/2008
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