A morte

Prólogo:

Do alto de seu trono ela me observa silente. Não se veste como a imaginam. Sua clâmide não é negra, mas sim escarlate com variações de um amarelo-ouro estonteante. Às vezes esse dourado lampeja, mas não emite calor. A mitologia representa esse ser temido por um esqueleto humano armado de uma foice. Não a vejo dessa forma.

Vejo-a igual a um espectro paciente que representa ameaça tenebrosa, perigo iminente, risco de morte entre os moribundos. Não se utiliza de uma foice fria, perfurocortante, como pensam quase todos os humanos.

Em verdade há uma combinação de poder e força em sua espada reluzente, de fogo. Não a temo. Respeito-a contemplando-a como cessação definitiva da vida ou da existência material (orgânica). O ente espiritual não perece sob sua sanha por estar sob a égide da misericórdia divina.

Sobre a morte eis o que nos ensina o iluminado espírito de André Luiz:

"A morte apenas dilata as nossas concepções e nos aclara a introspecção, iluminando-nos o senso moral, sem resolver, de maneira absoluta, os problemas que o Universo nos propõe a cada passo, com os seus espetáculos de grandeza."

André Luiz (Uberaba,15 de Janeiro de 1958) [56 - página 23]

À medida que angario simpatia, através dos meus escritos, motivo-me o suficiente para não me afligir com a morte, a qual é, como sabemos, inexorável. Outrora fui apreensivo com essa certeza, hoje, entretanto, assomam-se às experiências, no dia-a-dia, satisfações crescentes para transformar essa apreensão em beatitude.

O ritual dos preparativos para o embarque na carruagem que me conduzirá ao nirvana teve início já na minha adolescência. Introspectivo, eu me questionava sobre a morte. O que acontece ao ser humano depois da morte?

A questão de o que acontece, especialmente com os humanos, durante e após a morte (ou o que acontece "uma vez morto", se pensarmos na morte como um estado permanente) é uma interrogação freqüente, latente mesmo, na psique humana. Tais questões vêm de longa data, e a crença numa vida após a morte como a reencarnação ou ida a outros mundos é comum e antiga.

Quando adolescente eu gozava de agilidade física felina, mas a mente carecia de equilíbrio e sobriedade; sem essa preparação nenhuma serenidade é possível, mas com a obsessão pela morte, que pode sobrevir a qualquer momento, como conservar o espírito em equilíbrio?

Por que eu hesitaria em escrever o que penso sobre a morte? Ouso dizer que estou tanto melhor para compreendê-la à proporção que me aproximo dela. A contemplação humana da morte é uma motivação importante para o desenvolvimento de sistemas de crenças e religiões organizadas.

Por essa razão, palavra passamento quando dita por um espirita, significa a morte do corpo. A passagem da vida corpórea para a vida espiritual. Apesar desse ser conceito comum a muitas crenças, ela normalmente segue padrões diferentes de definição de acordo com cada filosofia.

Várias religiões crêm que após a morte o ser vivo ficaria junto do seu criador (Deus). Essa é minha crença e compreensão, também!

Não nego ser este assunto um tanto quanto tétrico, mormente se o leitor fizer uma analogia com textos que escrevi em pretérito recente. Todavia, com esta iniciativa que me aflora naturalmente do espírito, sem pretensão nefasta, demonstro maturidade e siso adequados a um envelhecimento digno e proficiente.

Sem contar que com isso o gosto eclético ressalta-se aos olhos dos que me lêem, busco superar minhas dificuldades nas digressões loucas, por vezes, cingidas de sensatez.