O Visitante
Era apenas um hospital comum. Um hospital qualquer em um bairro qualquer. Lá era um local um tanto triste e sombrio, como a maioria dos hospitais. Havia um setor de doentes terminais, e esses doentes também tinham algo em comum. Eram todos cegos.
Um dia, como outro qualquer, um senhor com uma voz um tanto calma e macia, foi visitar esses pobres doentes. Chegando lá, se apresentou e tratou de animar os demais amigos, contando lhe historias e muitas outras coisas.
Em um momento olhou pela janela e falou maravilhado: - Nossa! Que vista linda! Que belo campo verde, com tantas crianças brincando, tanta alegria!
Isso foi despertando a atenção dos pacientes, que não podiam ver o que ele mostrava, mas podiam sentir.
No dia seguinte, esse amigo visitante voltou lá e mais uma vez comentou: - Como é bom ver essa vista! Esse lindo sol, esse céu tão azul, essas nuvens brancas, quase em formatos de animais como imaginava na minha infância!
E aos poucos, conforme ele ia descrevendo as coisas lindas que via pela janela, foi trazendo esperança e calor para aqueles corações tão tristes e sem esperanças. Foi trazendo luz e vida para aqueles que não tinham mais esperança de viver.
E assim aquele bondoso visitante foi descrevendo cenas simples que ele presenciava, mas que se tornavam tão belas que trouxeram vida novamente àquele setor tão triste e sem vida.
No decorrer das suas visitas, muitos deixaram essa vida, sofreram, mais morreram com um brilho no olhar, um sorriso no rosto. Com o sol dentro de seus peitos.
Descrevia cada cena com tanto amor que quem estivesse escutando era capaz de ver tudo o que se passava, quase podia sentir o vento batendo em seu rosto, o sol iluminando seu corpo.
Mas um dia aquele bondoso senhor não apareceu. Aquele setor se tornou frio e sombrio novamente. Depois de alguns dias sem a visita do bondoso amigo, um dos pacientes perguntou a uma das enfermeiras se ela sabia de alguma coisa a respeito do visitante. A enfermeira disse: - Vocês não sabiam? Esse senhor faleceu tem alguns dias. Foi vitima de um ataque cardíaco, ele era um doente desacreditado pelos médicos e por isso resolveu sair do hospital.
Nesse momento, todos os pacientes que escutaram isso se emocionaram, sentiram uma grande tristeza, como se um lindo sonho tivesse terminado. Um dos pacientes em um momento de saudosismo pediu à enfermeira se ela poderia só por um instante olhar pela janela e descrever o que estava ocorrendo naquele momento. A enfermeira olhou e sem entender nada falou: - Senhor, desculpe, mas não tem nada além da janela, apenas um outro prédio e um grande muro branco. O paciente intrigado achou que a enfermeira estivesse zombando dele por ele ser cego. Mas sentiu que a enfermeira falava com sinceridade. Sem entender muito bem o que se passava pediu explicações à enfermeira. “- Impossível! O senhor que vinha nos visitar sempre nos falava das coisas belas que ele via pela janela, falava sobre o parque, sobre o campo verde, sobre o lindo céu azul. E nesse momento a enfermeira falou: - Desculpe, senhor, mas isso é impossível. Aquele senhor já foi paciente dessa clinica e ele nunca poderia ter descrito nada que ele viu pela janela, porque ele também era cego.