O pôr do sol

Era um fim de tarde de um dia ensolarado. Bianca estava caminhando pela praia, assim como fazia todas as tardes. Então sentou-se na areia, para ver o pôr do sol. A paisagem era belíssima, mas não a fazia esquecer do dia péssimo que tivera. No fundo, Bianca sabia que a culpa da discussão com o Marcos era toda sua, mas, seu orgulho e seu egoísmo não a deixavam admitir. Naquele momento, a raiva ainda estava tomando conta dela, como se consumisse os sentimentos bons de seu ser.

O sol se pôs, e a escuridão tomou conta do céu. Então, ela resolveu ir para casa. No caminho, ela ficou pensando na discussão que tivera. Para Bianca, Marcos não tinha o menor direito de revelar o que sentia por ela. Aliás, para ela, ele não tinha o menor direito de gostar dela. Por isso acabou brigando com ele, pois não gostou da atitude dele em revelar logo na frente de todos os seus amigos. Ela pouco se importava com os sentimentos dele, tanto fazia o fato de ele sofrer com a briga ou não, pois o que realmente interessava a ela, era a imagem que iria passar no colégio diante de todos os outros alunos no dia seguinte.

Bianca chegou em casa, e foi direto para seu quarto. Seus pais haviam ido viajar, portanto, ela estava sozinha. Ela não tinha fome para jantar, então, colocou seu pijama e foi deitar. Cada vez mais aumentava a raiva que sentia por Marcos, o que não a deixava dormir. E ela se sentia enojada só de pensar na possibilidade de eles ficarem juntos. Então, após um tempo, adormeceu, envolvida pela maldade e cegada por sentimentos ruins.

O despertador tocou, e logo Bianca se levantou. Estava com uma dor de cabeça horrível, e sua noite de sono havia sido péssima. Ela tomou um banho, se arrumou, bebeu uma xícara de café, e saiu de casa rumo a escola. Seu caminho foi tranqüilo, e sua consciência estava limpa, portanto, estava pronta para encarar Marcos e desprezá-lo se fosse preciso.

Ao chegar na escola, logo se deparou com Marcos. Bianca passou reto em direção a sua classe, mas ele chegou em sua frente e disse:

- Eu preciso conversar com você.

- Francamente! Você não acha que já falou demais? Mas, vamos. Diga logo o que você tem para dizer, pois eu não tenho tempo para te aturar. - falou Bianca, sem medir suas palavras.

- Olha, eu queria fazer as pazes com você. Gostaria de que você esquecesse o dia de ontem.

- Nada vai me fazer esquecer o dia de ontem! Nada vai me fazer esquecer a vergonha que eu passei por sua causa! Você não merece uma pessoa como eu. Se algum dia eu quiser ficar com uma pessoa como você, eu vou pedir para me internarem, pois eu estarei ficando louca. - disse Bianca, enfurecida.

Os olhos de Marcos encheram de lágrimas, após ouvir o que ela havia dito, e então saiu correndo para fora do colégio. Bianca entrou na classe e assistiu às três primeiras aulas normalmente, como se nada tivesse acontecido. E nem notou que Marcos não estava na classe, pois para ela, a presença dele não fazia falta.

O sinal tocou e todos saíram para o intervalo. Ela divertiu-se normalmente com seus amigos, como fazia todos os dias. Bianca sentia satisfação em utilizar a boa vontade dos alunos, para conseguir o que desejava. Ela e seus amigos não mediam esforços para conseguir o que queriam. A ambição falava mais alto do que tudo, e nada a fazia parar. O sinal tocou novamente, anunciando o fim do intervalo. Bianca foi para a classe, sentou-se em seu lugar, e antes que o professor da próxima aula pudesse entrar, a coordenadora adentrou a sala.

E então, ela deu um aviso para a classe, sobre Marcos. Contou que ele tinha sido encontrado morto em meio a uma rua. Ele havia sido atropelado, pois estava muito bêbado e não teve a mínima noção para atravessá-la. A classe ficou em silêncio, e muitos choraram, sofrendo pela morte de Marcos.

Então, de repente, Bianca saiu correndo para fora da escola. Naquele momento, seus olhos encheram-se de lágrimas, e a culpa invadiu sua alma. Andou sem rumo pela tarde inteira, chorando muito.

O tempo passou rapidamente, e logo chegou o fim da tarde. E então, como nos dias anteriores, ela dirigiu-se à praia, e sentou-se na areia para olhar o pôr do sol. Nada mais fazia sentido para ela naquele momento. A culpa a matava por dentro, e a fazia sofrer muito. O seu arrependimento era enorme, e ela sentiu vontade de voltar ao tempo, para poder consertar o que havia feito. De repente o remorso pareceu ser seu único amigo, e com certeza não abandonaria tão cedo.

Desejava ter uma única chance para se humilhar diante de Marcos, e confessar que ele era importante em sua vida. Queria pedir perdão, por todas as palavras duras, e por não admitir que no fundo sempre gostou dele. Ela queria trazê-lo de volta a vida, e se entregar para a morte no lugar dele.

Nada conseguia tirar o vazio que Bianca sentia por dentro, nem mesmo a cena maravilhosa do sol se pondo. E talvez, seu maior castigo para tudo isso, fosse estar condenada a conviver com esse sentimento ruim dentro de si eternamente. E em sua vida, o pôr do sol nunca mais teve o mesmo brilho de anteriormente.

Kayia
Enviado por Kayia em 02/07/2008
Código do texto: T1062159
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