Diário de Bordo
Engraçado, tive uns sonhos estranhos como sempre, o dia que eu tiver um sonho normal vai ser um fato estranho, até poderia dizer fora do normal, tomei meu café da tarde enquanto uma criatura branca insistia em me bulinar tentando constantemente pular em cima de mim, sim é minha cachorra Suzy, que digamos não poderia considerar ela um cachorro normal. Talvez seja questão de afinidade. Maluco atraí maluco. Sim porque ela é da minha irmã. Ou vocês acharam que eu ia dizer que eu sou maluco? Enganei vocês.
Inclusive a Suzy tem estórias muito interessantes, o próprio nome dela foi algo inusitado. Vou até contar como surgiu esse nome para esse mamífero branco, prima pobre do coiote branco.
Eu era apenas um garoto não sabia de nada, quando de repente surge um bichinho branco, todo cheio de machucados, não, não era uma foca da Antártida, era o cachorro que no futuro se chamaria Suzy.
No caso nem fui eu que a achei, foi meu pai. Como meu pai é muito caridoso e adora guardar bugigangas, teve pena dela e resolveu trazê-la para os nossos aposentos (se Sidney Sheldon pode usar esse termo eu também posso).
Já tínhamos uma outra cachorra chamada Laika, gostava dela apesar dela ser meio traidora, pois eu que a trouxe para casa e convenci o povo a adotá-la e ela sempre teve uma certa implicância comigo, não sei se porque numa época remota eu brincava com ela de “policial corrupto” e ela era sempre a vítima, eu lembro bem, eu com uma arma de espoleta com bolinhas de plástico gritando pra ela: -Corre cadela! Corre! Enquanto a alvejava com bolinhas em alta velocidade devido à pressão da espoleta. Mas talvez isso tenha sido apenas uma coincidência. Ou numa época que eu abandonei a “vida de policial corrupto” e decidi usar uma bola de futebol, mas sempre achava que o pobre cachorro era a baliza e gritava: -Bola! Enquanto chutava na direção do cachorro marrom já meio traumatizado com as armas de fogo e de espoleta. Bem isso não vem ao caso foi no passado.
Voltemos a nosso cachorro branco nomeado de Suzy.
Nessa época eu era um garoto em pleno período da puberdade, então sempre havia algumas revistinhas pornôs espalhadas em meu quarto. Resolvemos colocar um nome no pobre mamífero branco com chagas, parecendo figurante de filme religioso interpretando numa colônia de leprosos.
De repente veio à idéia vamos chamá-la de Suzy! Todos se espantaram com o nome mais até gostaram. Mal eles sabiam que Suzy era uma personagem da revistinha pornô intitulada “Suzy A Trombeteira”. Achei conveniente esse nome pois percebi que a cachorra tinha um contorno preto nos olhos, muito semelhante à personagem da revistinha em questão.
Achei interessante frisar sobre essa cachorra chamada Suzy pois ela realmente não é digamos um cachorro normal, alias, temos um histórico de cachorros doidos na família, começando na época que meus pais mal eram casados e já tinham uma cachorra chamada Laika (hum, seria falta de criatividade com nomes de cachorros?) onde ela se achava o Charles Bronson dos cachorros e atacava qualquer ser humano que tentasse contato. Tinha também uma cachorra chamada Xuxa que tinha um gosto alimentar que posso dizer bastante duvidoso, onde ela costumava comer pregos, vidros, parafusos, areia ou qualquer coisa que fosse considerado não-comestível ou mortal ao ingerir. Digamos que a Laika II e a Suzy foram cachorros mais normais.
Nunca vi cachorro tendo ataque epilético, talvez você até possa dizer que é impossível mais a Suzy já teve. Ela teve convulsões e começou a babar depois de alguns instantes estava normal de novo. Vai dizer que não era ataque epilético?
Ela é uma boa cachorra apesar de meio maluca.
Fiquei de tarde no computador, reparem que eu falei que fiquei de tarde no computador acordando 12:30 não teria como ser diferente, mais tudo bem.
Resolvi ensaiar com o sax tenor, comecei a fazer algumas notas longas e percebi que minha paciência estava um pouco limitada em relação a tocar instrumentos musicais. Mesmo assim continuei tocando enquanto a Suzy (lá vem ela na estória de novo!) me acompanhava soltando uivos ela até tentou repetir as mesmas notas mais sinto que ela precisa de umas aulas de percepção musical.
Isso me fez lembrar de um aluno de violão que eu tive que tinha esse mesmo problema, mais sem a desculpa de ele ser um cachorro, afinal eu não o vi andando de quatro e nem cagando no quintal.
Ele tinha esse problema também, passava algumas musicas pra ele mais simplesmente não havia assimilação da matéria eu passava a mesma musica cem vezes e ele continuava a não conseguir executá-la. Pensei até em recomendar a ele pintura mais não queria perder o aluno, afinal eu sempre fui péssimo em artes plásticas ou qualquer coisa que tivesse que se desenhar. Até mesmo para pintar um porquinho no CA eu era um fracasso, lembro que ficava triste vendo vários porquinhos todos rosadinhos, alguns meio amarelinhos e vi que escolhi a cor marrom pra pintar meu porquinho. Fadei o pobre porco a virar torresmo antes mesmo de ser morto e pior, ele virou um porquinho marrom todo manchado. Quando a professora olhou sinto que ela se sentiu desmotivada e deve até ter pensado em mudar de profissão mais como havia outros porquinhos rosadinhos e amarelinhos, deu pra balancear o estrago.
A única vez que fiz um desenho descente foi na 7º série e digamos que nem foi um desenho foi uma colagem que acabou dando certo.
Tudo isso porque o professor de geometria era digamos excêntrico ele era muito rígido em seus trabalhos, ou seja, eu sempre entrava pelo cano na matéria dele.
Uma vez ele pediu pra fazer uma colagem sobre a desigualdade social e o preconceito usando uma cartolina e pior, tinha que ser a cartolina inteira o infeliz não se contentou em destruir os pobres alunos com uma folha de A4 ele queria destruí-los em grande estilo com uma cartolina inteira.
Pensei, o que fazer? Resolvi fazer algo bem interessante, fiz um carro passando com um homem branco dentro e um homem negro andando pela rua descalço, o homem branco virando a cara pra ele. Algo simples mais que retrata uma realidade triste do nosso mundo. Pensei como vou fazer isso? Resolvi desenhar uns prédios tortos mesmo, fiz uma rua, copiei um carro (copiando com uma folha branca por cima da figura lógico, senão ia acabar virando um OVNI ou algo parecido) e fiz o mesmo com os bonecos. Comecei a colar as figuras era 1 da manhã tinha que acordar cedo mas sabe como é, podendo passar o dia inteiro sem fazer nada pra que fazer o trabalho de desenho? Não! Era melhor ficar vadiando mesmo e deixar tudo pra cima da hora.
Quando acabei senti um misto de pavor e raiva, pois estava parecendo um quadro baseado em um conto de terror do Edgar Alan Poe, os prédios todos tortos, a pista torta, o boneco marrom todo mal pintado andando na pista torta mas já era tarde, não ia mudar nada.
No dia seguinte quando vi os trabalhos dos meus colegas, senti vergonha de mim mesmo um preguiçoso que fez tudo nas coxas. Vi trabalhos todos desenhados com tinta guache perfeitos. Colagens todas certinhas, parecia que o próprio Michelangelo estava lá auxiliando o autor.
Respirei fundo e mesmo assim mostrei o trabalho para o professor já esperando no mínimo um “incompetente” ou algo mais carinhoso. Quando ele olhou fez uma cara estranha, olhou de novo, virou-se pra mim com cara de maluco e disse: -Isso ta lindo! Só escutei a platéia atrás todos sussurrando juntos um grande: “Oh!”.
Não entendi nada, mas percebi que ele elogiava enquanto comentava os detalhes: -Veja esses prédios tortos mostrando uma sociedade errada, irregular, veja esse boneco marrom que se confunde com a pista (foi por erro mesmo, lembram do porquinho marrom?), que lindo! Que criatividade! Eu até pensei em comentar que aquilo foi falta de capacidade artística para desenvolver o trabalho, mas não quis acabar com a alegria do professor.
Resultado: ele mandou meu trabalho pra uma exposição no Copacabana Palace! Imagina eu! Artista! Mas só saberia desenhar coisas tortas ou mal desenhadas. Apesar que não ia ser tão diferente de muitas obras por aí.
Bem como já escrevi muito vou finalizar dizendo que meu aluno de violão continuou sem aprender a tocar, coitado!