Gênero Textual e Tipologia Textual: colocações sob dois Enfoques Teóricos
As necessidades comunicativas entre os povos e suas culturas, no decorrer de sua história, proporcionam uma nova postura diante da taxonomia clássica dos textos descritivos, narrativos e dissertativos. Essa nova postura abriu as portas para os gêneros textuais. A partir de então, convencionou-se chamar tipo textual, de um lado; e gênero textual, do outro.
Um dos argumentos de defesa primordiais para os gêneros textuais é que, conforme Marcuschi (2002, p.22) “é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum gênero”. Logo, a comunicação verbal só é possível, através do gênero textual, o que não acontece, quando nos referimos aos tipos textuais.
Para uma maior compreensão desses dois enfoques teóricos, Marcuschi (2002, p.22), ainda, traz uma breve distinção:
(a) Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de construção teórica definida pela natureza lingüística de sua composição (aspectos lexicais, sintático, tempos verbais, reações lógicas). Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção.
(b) Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para refletir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. Se os tipos textuais são meia dúzia, os gêneros são inúmeros. Alguns exemplos de gênero textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, horóscopo, receita [...], carta eletrônica, bate-papo por computador, aulas virtuais e assim por diante.
Já podemos perceber, desde esse breve comentário, que enquanto tipo textual é caracterizado por seqüências lingüísticas pré-definidas; os gêneros textuais são textos que encontramos no nosso dia-a-dia, sendo, portanto, sociais (sócio-comunicativos), além de terem propriedades funcionais, estilo e composição característica. Além disso, há um número finito de tipos textuais, diferentemente dos gêneros, que abrangem um conjunto aberto e praticamente ilimitado de exemplares (o avanço tecnológico auxiliou mais ainda nesse crescimento).
Podemos dizer, ainda, que dentro do universo dos exemplares dos gêneros textuais, há um ou mais tipo(s) textual (is), pois, conforme Marcuschi (2002, p. 25) “um texto é em geral tipologicamente variado (heterogêneo)”. Afinal, um gênero, como a carta pessoal, por exemplo, pode conter narração, descrição, exposição, injunção em seu conteúdo; então, já percebemos que aqueles são base para a construção conteudística destes.
Porém, como já afirmamos, os gêneros textuais são, portanto, caracterizados muito mais por suas funções comunicativas do que por suas particularidades lingüísticas e estruturais (por mais que um elemento não exclua o outro). Além disso, devem ser contemplados em seus usos sócio-pragmáticos.
Por causa desses argumentos a respeito dos gêneros textuais, principalmente, é que sugerimos, nas aulas de língua portuguesa, um estudo que os tenha como base (na leitura, análise lingüística e produção textual), pois estudar textos, na perspectiva dos gêneros textuais, é analisar a língua em dinamismo funcional e contextual.
Quando refletimos sobre as propostas de gêneros textuais nas aulas de língua materna, temos em mente a grande importância e significado de se obter cidadãos capazes de lidar com diversas formas de discurso em seu meio social. Daí a necessidade de um ensino que venha atender às necessidades discursivas em meio a uma sociedade tecnológica. Por isso, ratificamos o estudo de texto, como base nos gêneros textuais e não nos tipos textuais, pois aqueles se apresentam mais completos.