Boiada.

O boiadeiro, e o gado, além: os montes. Ele, sem os assobios, na calmaria do trote, subindo. As colininhas. O horário que ia pelos meios, era uma da tarde, com cara de começo e fim de dia, o luzeiro amarelado. A boiada lá no longe, coisa de alguns quilômetros, no monte da frente, enquanto o homem num outro pico, vendo tudo. Esse silêncio, omitindo o berrante, o chamado, fechando a cancela para as ventanias. O sol, escorria atenção, espalhava sua duna de luzes pela relva, correndo campo ondulando. Nesse instante, os bois, todos, correram, descendo barranco, naquele peso todo seu, no risco da queda embolada, mortes. Mas iam mesmo, começando, de repente, a flutuar, as patas todas firmando forte no vão deixado, uma leveza grave, formando filas, carreando. Os bois todos pintados, dourados, a luz sequestrante. E o boiadeiro? Ainda calado, firmoso, mas decidido: o cavalo recebeu a ordem, relinchou a verdade, e correu em direção ao gado. O cavalo, no entanto, não passarava, talvez com algum cargo de seu pesar aflito, só seu, que seu presidente... quietíssimo, como sempre. Sabedor. Ciência. Seguiu a corrida, que seria um acerto só, acidentoso: os caminhos se encruzilhavavam. A boiada passaria, de certo? Ou o cavalo tomaria frente, virando guia? Duas estrelas, certo. E minimando a proximitude, o vaqueiro laçou o invisível, virou somente um anjo, entendam: o cavalo seguiu, reto, passando por baixo dos tantos bois flutuantes. O homem, vejam, virou anjo. Montaria sua: o boi fronteiro. E todos seguiram um sem-fim, desconhecido.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 05/11/2024
Código do texto: T8190352
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.